Governo analisa criação de Centro Materno-Infantil da Península de Setúbal no HGO

Medida pretende centralizar as urgências de obstetrícia em Almada, e evitar que a Margem Sul tenha as três urgências encerradas, como já aconteceu

O Governo planeia encerrar a Urgência de Obstetrícia no Barreiro e concentrar a resposta desta especialidade médica em Almada. O ministério da Saúde (MS) considera que esta pode ser a solução para garantir o atendimento e uma resposta integrada que garanta cuidados obstétricos e neonatais mais eficazes na região. Ana Paula Martins diz que recebeu esta proposta há dois dias e que a mesma está a ser analisada.

Segundo o jornal Expresso, a proposta prevê que sejam encerradas as urgências obstétricas da unidade de saúde do Barreiro, que continuará a fazer o acompanhamento, exames e alguns partos programados, mas a actividade diferenciada e as urgências obstétricas ficariam concentradas no Hospital Garcia de Orta (HGO), em Almada. Fora do plano fica a unidade de saúde de Setúbal, que vai continuar a ter as suas próprias urgências de obstetrícia.

A solução foi apresentada pelo presidente da Comissão Nacional da Saúde da Mulher, da Criança e do Adolescente, Caldas Afonso, e prevê a criação de um Centro Materno-Infantil da Península de Setúbal, que irá reunir profissionais obstetras, meios técnicos e cuidados SOS. Esta medida constava no plano que já estava a ser traçado pelo primeiro director-executivo do Serviço Nacional de Saúde (SNS), Fernando Araújo.

À margem de uma visita a Elvas, a ministra da Saúde confirmou hoje, 31 de Janeiro, que a proposta está, neste momento, a ser analisada, mas que ainda não há data para avançar. “Não posso hoje dar-vos detalhes de qual é o momento em que isto vai acontecer, com que equipas e em que circunstâncias, porque como vos disse esta proposta chegou-nos há dois dias, e eu tenho de ver com o professor Álvaro Almeida, director executivo do serviço nacional de saúde.”

A justificação para esta centralização em Almada prende-se com a capacidade da unidade para lidar com casos de grande prematuridade, e a implementação da estratégia será acompanhada pela nomeação de novas administrações para os dois hospitais. 

Numa análise aos dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgada hoje, o jornal Público indica que nos concelhos do Barreiro, Montijo e Moita a taxa de mortalidade infantil é mais do dobro da nacional. Em 2023 o Barreiro e o Montijo tiveram uma taxa de 6,1 mortes de bebés com menos de um ano de idade por cada mil nascimentos, enquanto na Moita o valor foi de 5,2 óbitos por mil nascimentos. No país, a taxa foi de 2,5 nesse ano.

Em declarações à agência Lusa, o presidente da Câmara do Barreiro, Frederico Rosa, manifestou-se preocupado com esta possibilidade, considerando que a medida não resolverá o verdadeiro problema que é a falta de recursos humanos no SNS e na Península de Setúbal, e a sua maior valorização.

O autarca do Barreiro, adiantou que, juntamente com os outros autarcas da área de influência do hospital do Barreiro, vai pedir uma reunião de urgência com a ministra da Saúde para perceber as reais medidas de fundo que estão a ser pensadas para o território, considerando que o foco principal deve ser a prestação de melhores cuidados de saúde.

O Hospital de Nossa Senhora do Rosário – Barreiro, pertencente à Unidade Local de Saúde do Arco Ribeirinho, e tem como área de influência directa os concelhos do Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete.

“Enquanto não se tomarem medidas de fundo, que passam muito pela valorização das carreiras e pela capacidade de atrair, mas acima de tudo, de reter os profissionais no Serviço Nacional de Saúde, andamos de tempos a tempos a falar sobre estas questões”, disse.

No Barreiro, estão a ser preparados concursos para construção de habitação acessível, os quais vão ter uma quota para residentes que sejam profissionais de saúde, polícias ou professores. “Uma grande fatia dos ordenados vai para a habitação e a Câmara Municipal está a fazer o que pode para a aliviar, guardando parte da habitação acessível para médicos que queiram trabalhar no concelho, mas o Governo tem que fazer a parte dele e resolver o problema de fundo que é a saída de profissionais do Serviço Nacional de Saúde devido a carreiras pouco atractivas”.

“A pior coisa que pode acontecer a alguém que se dirige a uma urgência é não saber para onde se dirigir. Às vezes é importante ter estas medidas, que consideramos de transição, até à medida de fundo, mas o tempo passa, só se fala destas pequenas medidas de transição e nunca se fala das medidas de fundo. Eu percebo que seja muito importante a previsibilidade, eu também tenho muitas dúvidas que esta questão de juntar todos os profissionais num sítio seja uma conta de somar, porque eu tenho muitas dúvidas que todos os profissionais queiram aderir”, acrescenta.

Ouvida pela TSF, a autarca de Almada, Inês de Medeiros, lamenta que os envolvidos nesta mudança não tenham sido ouvidos e insiste que “há um problema crónico e estrutural, no qual devíamos pensar seriamente, que é a falta de recursos humanos e a incapacidade que o Serviço Nacional de Saúde tem de reter profissionais”.

Inês de Medeiros alerta ainda que esta concentração de urgências não altera o número de médicos, nem o número de utentes: “Não basta juntar dois serviços para achar que vamos ter mais médicos. Vamos ter o mesmo número de médicos para o mesmo número de parturientes.”

A região de Lisboa e Vale do Tejo, juntamente com Gaia e Portalegre, avançou em Dezembro com um projecto-piloto de urgências obstétricas referenciadas, que deveria assegurar a abertura de, pelo menos, duas urgências em permanência. No entanto, os hospitais da península de Setúbal não conseguiram cumprir os requisitos necessários, como a adaptação dos algoritmos de triagem das grávidas. “Comprometeram-se a iniciar em Janeiro e a manterem sempre, pelo menos, duas urgências abertas, mas não foi cumprido e logo no início do ano estiveram todos fechados”, explicou Caldas Afonso. Perante este cenário, o Governo considerou essencial avançar com um modelo alternativo para garantir estabilidade e continuidade na assistência.

Os hospitais envolvidos asseguram que o modelo de urgência referenciada foi implementado conforme o previsto. O HGO, por exemplo, garantiu que, em articulação com o Ministério da Saúde, assumiu a abertura da urgência obstétrica em 60% dos dias de Janeiro, ultrapassando a meta inicial de 40%. No entanto, apesar deste esforço, os encerramentos simultâneos das três urgências continuaram a ocorrer.

Os responsáveis hospitalares não esclareceram as razões para a persistência dos encerramentos. Já os profissionais no terreno apontam para um problema de falta de coordenação entre as unidades, o que continua a comprometer a resposta assistencial às grávidas da Margem Sul.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

, , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , , ,

Um pensamento em “Governo analisa criação de Centro Materno-Infantil da Península de Setúbal no HGO

Comentários estão fechados.