Miguel Oliveira confirmado na WithU-RNF Aprilia

Após 4 anos na KTM, o piloto almadense vai competir na satélite da Aprilia

O português Miguel Oliveira vai alinhar na RNF, equipa satélite da Aprilia, depois dos quatro anos no Mundial de motociclismo de velocidade na KTM, anunciou hoje a formação italiana de MotoGP.

“A Aprilia Racing e a RNF confirmam que Miguel Oliveira e Raul Fernandez vão estar na equipa na próxima temporada”, refere a formação em comunicado.

“Era mais confortável ficar na KTM, mas desportivamente este é o passo certo”, declarou Miguel Oliveira, de 27 anos, que termina contrato no final da temporada com o construtor austríaco, ao serviço do qual se estreou em MotoGP, em 2019, na Tech3, e rumou à equipa de fábrica em 2021.

Em conferência de imprensa realizada esta terça-feira na Charneca da Caparica, Miguel Oliveira abordou a decisão tomada de deixar a KTM no final da presente temporada e mudar-se para a WithU-RNF Aprilia, assumindo que esta foi motivada pela necessidade que teve de abraçar um novo projecto e testar-se fora da sua zona de conforto.

“Todas as mudanças requerem sempre um bocadinho de esperança e fé. Foi um pouco nessa vertente que decidi abraçar um novo projecto para os próximos dois anos. O meu percurso com a KTM não foi curto, estivemos duas temporadas juntos, conquistámos dois vice-campeonatos, um em Moto3 e Moto2. O maior passo foi dado com eles, a transição para a categoria rainha. Juntos conquistámos 37 pódios, 14 vitórias. É um percurso do qual me orgulho bastante. Ainda com corridas por disputar esta época, acredito que esse número ainda poderá ser aumentado. Este ano foi um ano de abertura de muitas oportunidades de mercado. Procurei sempre desde o início garantir que me enquadrava com a KTM para o futuro, mas ao longo destas negociações percebemos que provavelmente os caminhos poderiam separar-se. Da minha parte só tenho a agradecer à KTM o esforço que fizeram ao longo de todas as temporadas, mas também o esforço que fez para me manter na estrutura até ao último minuto. Mas como disse, este é o passo que necessito enquanto piloto para a minha carreira e é nessa base de confiança que construirei um projecto nos próximos anos”, começou por explicar o piloto português.

Questionado sobre a duração do contrato (dois anos) e sobre se o mesmo significa um olhar para o futuro, para a possibilidade de subir à equipa principal, o piloto de Almada assume que é algo que foi considerado. “Quando explorámos a oportunidade, sabíamos bem que os contratos são de um período de dois anos. Com possibilidade de outros dois. Essa transição estará em mente, caso ambas as partes achem que isso é possível. Da parte técnica é algo ainda em aberto para o futuro. Em relação ao empenho da equipa, é garantidamente 100%. Agora na próxima corrida teremos os testes em Misano, há coisas que não vou testar, porque a nossa colaboração irá terminar. Tudo o que poderei aproveitar, vou aproveitar, numa óptica de explorar o potencial da moto, o meu potencial e o da minha equipa. O futuro não estará obviamente comprometido por tomarmos caminhos diferentes no final desta época.”

2022 não tem sido um ano fácil, apesar de até já ter vencido uma corrida. Miguel Oliveira assume-o. “Emocionalmente, as épocas de transição e de mudança nunca são fáceis. Sempre foi mais fácil emocionalmente continuar na KTM, mas acredito que tomei um passo na direção certa, saindo um pouco da minha zona de conforto ao tomar aquilo que era certo por algo que não é certo. Apesar de a moto ser muito aliciante. Era emocionalmente mais confortável e até pelas condições que me foram melhoradas ao longo das negociação, era muito tentador ficar, mas, desportivamente, será o passo correto no meu futuro.”

O piloto de Almada admite que a situação de incerteza, de certa forma, acabou por afectar um pouco o desempenho. “Da minha parte, sempre tentei ao máximo conseguir separar bem as direcções, mesmo comunicando as minhas decisões e sendo como sempre transparentes com a KTM. Tentámos ao máximo que isso não afectasse o fim de semana de corrida. Há muita coisa que vai surgindo, que tem de ser filtrada. Não posso dizer que não afectou, porque há sempre algumas dúvidas, conversas que podem afectar a confiança e o foco. Apesar de ter sido um período longo, talvez tenha havido um fim de semana ou outro em que as conversações tenham sido mais intensas. Da minha equipa também, porque vão ter um futuro diferente. Enquanto equipa sofremos um pouco toda esta incerteza nestes tempos”.

Sobre aquilo que terá na Aprilia, Miguel Oliveira espera uma abordagem similar às outras marcas, com a possibilidade de ter ao seu dispor os melhores componentes. “No futuro julgo que o sistema será similar ao de outros construtores. Com peças e componentes testados e atribuídos a quem tenha melhor performance. Vimos isso na Ducati, com o Bastianiani a receber peças dessa forma. Julgo que todos têm essa filosofia, de o construtor sair por cima. Não troquei impressões nenhumas com os pilotos, até porque todo o processo foi feito com algum secretismo dentro do possível. Mas iremos obviamente trocar alguma impressão quando for oportuno. Durante a época o nosso foco não é falar sobre isso, estou 200% empenhado com a KTM, nem sequer tenho a cabeça virada para pensar em aspectos técnicos do futuro”, finalizou.

©fb / Miguel Oliveira pela KTM no circuito de Silverstone

Na hora do adeus a equipa austríaca não deixou de prestar tributo ao português. Com um longo comunicado, no qual destaca todos os passos dados pelo piloto nas suas fileiras (com várias victórias e pódios), a KTM dá ainda voz aos homens-fortes da equipa, nomeadamente Pit Beirer, que mostrou um enorme apreço por aquilo que o #88 fez.

“Um enorme obrigado ao Miguel por tudo o que trouxe ao nosso projeto do MotoGP e pelos fortes valores que ele representa. Veio do nosso “sistema” da KTM, mas também nos ajudou a tornar válido cada passo e ao ser competitivo, com os 36 pódios que teve e as 16 vitórias que nos deu, 4 delas no MotoGP. A victória na Áustria foi simplesmente fantástica, apenas superada pelo domínio e emoção daquela que teve em Portugal no final dessa época. Mostrou aos jovens pilotos o “caminho laranja”, ao subir na pirâmide do MotoGP. É um profissional absoluto, um homem de família e a sua ausência será notada no nosso lado do paddock, certamente. Desejamos que tenha o melhor futuro no MotoGP”, disse o austríaco Pit Beirer, um admirador confesso do português.

©fb / Pit Beirer

Menos expressivo, também porque apenas trabalhou com o português durante uma época, Francesco Guidotti, o diretor da Red Bull KTM Factory Racing, enalteceu o profissionalismo e a ajuda dada na evolução da moto da equipa austríaca. “Tivémos a sorte de ter tido um piloto com a inteligência, talento e profissionalismo do Miguel na equipa de fábrica. Quando conseguimos colocar-lhe nas mãos um bom conjunto ele foi capaz de mostrar a sua classe e deu-nos importantes informações no desenvolvimento da KTM RC16. É algo que sempre agradecemos”, disse o italiano, fechando a sua nota com um “Obrigado Miguel” em bom português.

©fb / Francesco Guidotti

O piloto natural de Almada, actual 10.º da classificação de pilotos, com 85 pontos, menos 115 do que o francês Fabio Quartararo, líder e campeão do mundo, conta quatro vitórias na categoria “rainha” do motociclismo de velocidade, com os triunfos em Portimão e na Estíria, em 2020, em Barcelona, no ano passado, e na Indonésia, na presente temporada.

O nono lugar alcançado em 2020 foi a melhor classificação obtida por Oliveira no Mundial de MotoGP, que foi 14.º em 2021 e terminou em 17.º no ano de estreia.

Antes de chegar à MotoGP, Miguel Oliveira sagrou-se vice-campeão do mundo de Moto3, em 2015, e Moto2, em 2018, em ambos os casos em KTM, atrás do inglês Danny Kent e do italiano Francesco Bagnaia, respectivamente.

A RNF Racing é uma equipa malaia, que se estreou em 2022 no campeonato de MotoGP, em parceria com a Yamaha, tendo, a partir do próximo ano, acordo com a Aprilia.

No presente campeonato, alinharam pela formação propriedade de Razlan Razali, o italiano Andrea Dovizioso e o sul-africano Darryn Binder, irmão mais novo de Brad Binder, atual companheiro de equipa de Miguel Oliveira na KTM.

“Estamos extremamente entusiasmados por receber Miguel Oliveira e Raúl Fernández na WithU RNF MotoGP Team a partir de 2023. Não foi um processo simples, mas juntamente com a Aprilia fomos muito claros sobre os pilotos que queríamos. São ambos jovens pilotos com uma boa combinação de experiência, a começar por Miguel e Raúl, de quem pessoalmente sou fã desde que chocou à categoria de Moto2 no ano passado para se tornar vice-campeão. Tanto a Aprilia quanto nós acreditamos no talento de ambos os pilotos, por isso mal podemos esperar para que eles nos representem na próxima temporada”, afirmou Razlan Razali, fundador e chefe de equipa WithU RNF MotoGP Team.

©fb / Razlan Razali

Também Massimo Rivola, CEO da Aprilia Racing, elogiou esta escolha e agradeceu ainda à KTM. “Conseguimos garantir dois talentos extraordinários, dois pilotos que respeito muito, tanto do ponto de vista humano como pelas suas capacidades técnicas. Miguel mostrou o seu talento em todas as categorias, embora ainda muito jovem já acumulou muita experiência, vencendo quatro corridas de MotoGP, por vezes com prestações dominantes. Ao seu lado estará Raúl, alguém que não escondo ter procurado várias vezes. Acho que ele é uma das promessas mais claras dos últimos anos, o que ele fez na sua estreia em Moto2 diz muito sobre a sua velocidade. Gostaria de aproveitar esta oportunidade para agradecer à KTM que, mostrando o seu grande desportivismo, permitiu que Miguel e Raul andassem nas nossas motos imediatamente após o fim do Campeonato de 2022”, vincou.

©fb / Massimo Rivola

Na próxima época, o espanhol Raul Fernandez, que representa esta época a Tech3, vai ser o companheiro de equipa do piloto luso na RNF.

Na KTM, Miguel Oliveira vai ser substituído pelo australiano Jack Miller, que se junta ao sul-africano Brad Binder na equipa de fábrica.

Antes de Miguel Oliveira falar sobre a sua mudança para a Aprilia e aquilo que deixou para trás na KTM, o seu pai e agente fez um ponto de situação em conferência de imprensa, deixando claro que a mudança para a GASGAS nunca esteve em cima da mesa.

“Foi um contrato assinado recentemente, após meses de negociação. Não foi fácil porque tínhamos acertado com a KTM que queríamos estar com eles no futuro, mas algo mudou no seio da equipa. Foi-lhe oferecida a equipa GASGAS, algo que ele obviamente não aceitou e tivemos de procurar uma nova equipa. Esta moto tem-se revelado vencedora, que se enquadra no estilo de pilotagem do Miguel. Acreditamos que no futuro poderá ser mota vencedora nas mãos do Miguel e que esse sucesso chegará o mais rapidamente possível – mais breve do que eventualmente imaginamos. O Miguel ainda não pode falar deste contrato – ainda -, por isso é que eu estou aqui a anunciar esta mudança para a Aprilia. Só poderá falar a partir de Valência, quando testar a Aprilia”, disse Paulo Oliveira.

©fb / Paulo Oliveira, pai e agente de Miguel Oliveira

Na mesma conferência de imprensa, Paulo Oliveira revelou ainda que o contrato será válido por duas temporadas e que neste mesmo acordo está previsto que o português tenha “estatuto de piloto oficial”. “Embora esteja numa equipa satélite, terá uma equipa oficial. A moto é a que vai terminar em Valência, mas todos os upgrades que sejam testados na fábrica virão para a moto do Miguel”.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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