Novos barcos da Transtejo, a eterna espera

Não deixa de ser estranho que a predisposição conjunta entre a administração da empresa do Estado que gere a travessia no rio Tejo, e a presidente socialista de Almada, ao lembrarem-se de repente que o Governo tem de dar explicações, curiosamente, agora que o Governo é da AD, e já não é um Governo do partido socialista.

Não deixa de ser curioso o timing e a oportunidade da administração da Transtejo e da presidente da câmara de Almada, ao endereçarem em Maio passado uma carta conjunta ao Governo, manifestando preocupação pela situação de impasse relativa ao processo dos novos barcos que irão fazer a travessia entre as duas margens do rio.

Não deixa de ser estranho que a predisposição conjunta entre a administração da empresa do Estado que gere a travessia no rio Tejo, e a presidente socialista de Almada, ao lembrarem-se de repente que o Governo tem de dar explicações, curiosamente, agora que o Governo é da AD, e já não é um Governo do partido socialista. Governo esse, que à data da carta tinha um mês de funções(!).

Onde andavam as preocupações de Inês de Medeiros quando o “seu” Governo socialista estava em funções? Por que não se preocupou em endereçar a carta conjunta ao Governo de António Costa quando o mesmo tutelava o processo? Faz muito bem a presidente da câmara de Almada ao indignar-se e preocupar-se com a demora desta telenovela mexicana, que é a aquisição dos novos navios pela Transtejo e Soflusa. Convém é que deixe o descaramento de lado e se comporte como uma verdadeira presidente, cujo principal objectivo é servir os interesses dos seus munícipes, ao invés das conveniências partidárias. 

A juntar a tudo isto, tivemos conhecimento via administração da Transtejo, que a demora na transferência das novas instalações em Cacilhas, há muito prometida pela Transtejo e por Inês de Medeiros que sempre faz questão de anunciar esse grande equipamento quando lhe convém, está dependente da saída do Clube Náutico para outras instalações. Ou seja, a culpa, no limite, segundo as duas entidades, é do Clube Náutico, pois ainda mantém as instalações na doca que servirá de nova estação(!) Pergunta: que anda a câmara de Almada a fazer que não consegue resolver a questão da deslocação do Clube Náutico para que se possa dar início à construção da nova estação fluvial de Cacilhas? 

Inês de Medeiros, prometeu a deslocação do respectivo clube para o novo e emblemático projecto da Margueira, o mesmo projecto, ou melhor, intenção de projecto, que a presidente tenta vender tantas vezes em certames internacionais, sem sucesso. Resta saber se tal acontece devido à falta de interesse de potenciais compradores, ou à falta de jeito de Inês de Medeiros para “vender” Almada. O que é certo é que essa deslocação nunca aconteceu. Um ponto de ordem no assunto: nada me move contra o Clube Náutico de Almada, bem pelo contrário, até acho que o mesmo deveria ser mais apoiado, pois faz um excelente trabalho com as camadas mais jovens e de formação. O problema é que parece que esta nova narrativa, que tenta responsabilizar agora o Governo da AD, não augura nada de bom parav os almadenses. 

Por fim, é de sublinhar mais uma vez, a diferenças de estados de espírito da administração da Transtejo e de Inês de Medeiros com a passagem de um governo para o outro. Há cerca de um ano, a 6ª Comissão Permanente da Assembleia Municipal de Almada, na sequência do seu trabalho contínuo e profícuo, tal como manda o regimento, reuniu nas instalações do Cais do Sodré com a Transtejo. Nessa data, transpirava-se neste órgão esperança, motivação, entusiasmo e optimismo pelo enorme e arrojado projecto dos novos “cacilheiros”, que tinha grande empenho do Governo socialista.

Na altura, a construção da nova estação era para iniciar o mais breve possível, com novos pontões que comportariam as novas embarcações. Na altura, o Governo estava empenhadíssimo, tal como a administração da empresa e a câmara de Almada para que o projecto tivesse início em meados de 2024 (já cá estamos e nada!). Na altura, prometia-se que haveria melhores condições para os trabalhadores, mais carreiras e melhores horários, com mais comodidade e melhor serviço(!). Quinta-feira, 8 de Agosto, um ano depois do optimismo e das promessas, o Governo socialista caiu de podre, parafraseando uma expressão popular, a administração da Transtejo mudou de discurso, agora pouco sabe do futuro, tem muitas incertezas e deixou de ter o comprometimento entusiasta do ano passado. O que mudou?  Eu tenho uma ideia do que mudou, mas deixo isso ao critério de cada um. 

Em jeito de conclusão, o tão económicos navios que trarão benefícios para o ambiente, segundo os mentores do projecto, ainda não estão ao serviço das populações e já ajudam a poluir e a consumir, exactamente o contrário do que pretendiam. Ou seja, os novos navios, electricos, estão a ser carregados por geradores a gasóleo, o que denota bem o contra-senso e toda a trapalhada despesista em que se encontra o projecto. 

Até lá os almadenses e quem utiliza os barcos como meio de transporte vai continuar a tê-los com horários desadequados e espaçados, a perder comodidade e segurança, sem uma estação fluvial digna, e vamos continuar a ter trabalhados descontentes com as suas condições de trabalho. 

Há um ano eram (literalmente) só rosas, mas o Governo do PS só deixou os espinhos, e tudo isto com o habitual silêncio da presidente da câmara de Almada, Inês de Medeiros, que parece ter mais jeito para representar e realizar filmes, do que para gerir a vida real. Vive no mundo da fantasia.

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António Pedro Maco

Deputado Municipal eleito pelo CDS-PP na Assembleia Municipal de Almada