Quatro anos de pena suspensa e 16.500 euros de imdemnização por insultos racistas a filhos de Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank

O caso gerou indignação pública em 2022

Numa decisão importante para a luta contra o racismo, o Tribunal de Almada condenou na Sexta-Feira 15 de Novembro, Adélia Barros de 59 anos, a uma pena de 8 meses, suspensa por quatro anos, e a 14 mil euros de indemnização por danos não patrimoniais, e 2500 euros para o SOS Racismo, pelas injúrias com “conteúdo marcadamente racista” contra os filhos do casal de actores brasileiros Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank.

O caso, que gerou indignação pública em 2022, envolveu ofensas de teor racista dirigidas a crianças menores, num incidente ocorrido num restaurante da praia de S. João, na Costa de Caparica.

Adélia Ramos foi também condenada à obrigatoriedade de internamento para tratamento ao alcoolismo, pois o juiz considerou ainda que apenas acompanhamento “não é suficiente”. “Espero que perceba que estas situações não são aceitáveis e que as expressões são marcantes para quem as ouve”, finalizou o juiz.

Para o tribunal ficou provado que, a 30 de Julho de 2022, na praia de São João, na Costa da Caparica, Adélia Barros gritou pelo menos cinco vezes às crianças, ao mesmo tempo que as olhava: “Vão embora daqui, seus pretos imundos! Portugal não é lugar para vocês! Voltem para África e para o Brasil.”

O juiz referiu que, por causa disto, as crianças ficaram ansiosas, permanecendo em estado de choque e com medo de estar sozinhas, sendo que Chissomo apresentou também sintomas febris. As crianças não quiseram sair de casa por receiom e pediram para regressar ao Brasil. Têm vindo a ser acompanhadas psicologicamente, e a sua auto-estima mostrou-se comprometida. Os ofendidos apresentam sentimentos de vergonha e humilhação, acrescentou o juiz.

Adélia Barros é ainda acusada de ofensas aos militares. Segundo ficou provado dirigiu-se aos agentes da GNR, gritando: “Filho da p***, cabrões, não são polícias, não são nada.” Também evocou Salazar, gritando: “Em terra de comunistas, viva Salazar!”

O tribunal considerou que a sua versão de que a embriaguez a fez esquecer-se do que sucedeu não se mostrou credível, pois recordava-se de alguns factos e de outros não, e sublinhou que “é abundante” a prova e as consequências que a sua conduta teve para os ofendidos.

A sentença agradou aos advogados do casal de actores brasileiros. Segundo referiu o advogado Rui Patrício, “o tribunal considerou provados os factos, bem como a motivação racista, salientando a necessidade de combater a discriminação racial e de proteger as criança”.

Adélia Barros não quis comentar a decisão, e o seu advogado disse que iriam ponderar o recurso.

Actores pronunciam-se em comunicado

Os actores Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank pronunciaram-se sobre a sentença através de um comunicado divulgado nas suas redes sociais.

“Assim como já dissemos, mas precisamos repetir: sabemos que essa vitória acontece por termos visibilidade e por sermos brancos. Sabemos que somos mais ouvidos que quaisquer mãe ou pai negros que ainda são silenciados. Sabemos. E não podemos parar – principalmente se o nosso privilégio fizer diferença numa luta. É esse o nosso papel, é esse o papel da branquitude.”, explicam.

No mesmo comunicado pode ainda ler-se “Esta é a primeira vez que a lei portuguesa condena uma pessoa em consequência do racismo. A mulher que agrediu nossos filhos – que são crianças – foi condenada a oito meses de prisão. Logo, estamos muito confiantes na Justiça Portuguesa e somos também gratos aos nossos advogados portugueses Rui Patrício e Catarina Mourão que sempre nos fizeram acreditar que a justiça seria feita.”

“Mais uma vez estamos emocionados, mais uma vez agradecemos a comoção pública e a imprensa brasileira e de nossos amigos portugueses. E mais uma vez devemos dizer que precisamos seguir vigilantes, pois o racismo segue, segue diminuindo, ferindo, matando. E não podemos esmorecer diante dele.”, concluem os actores.

Em Agosto, a socialite Day McCarthy, foi condenada no Brasil a uma pena de oito anos e sete meses de prisão, também por racismo contra a filha dos actores.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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