Charneca da Caparica | “À Soleira da Porta” ou quatro décadas de jornalismo

Novo livro de Eduardo M. Raposo é lançado a 28 de Março. O Almada Online entrevistou o autor.

“À Soleira da Porta: Quatro Décadas de Jornalismo – Entrevistas, Crónicas e Outras Estórias Transtaganas”, é o 9º livro da extensa carreira de Eduardo M. Raposo, que será lançado a 28 de Março pelas 18h30, no Auditório António Rodrigues Anastácio, no edifício da Junta de Freguesia da Charneca da Caparica. A entrada é livre.

A obra, que também contém textos de António Nabo, José Manuel Castanheira, Eugénio Alves, Ana Paula Amendoeira e do jornalista Pedro Tadeu, que a apresentará. Haverá também um momento de poesia, por Ana Pereira Neto.

Publicado pelas Edições Colibri, o livro reúne entrevistas e crónicas escritas por Eduardo M. Raposo ao longo de mais de 40 anos de carreira, incidindo sobre o percurso de personalidades relevantes da cultura e história contemporânea portuguesa, com enfoque especial na região e personalidades do Alentejo, de onde o autor é natural. São conversas com pensadores, artistas e intelectuais, que recuperam acontecimentos e debates muitas vezes esquecidos.

O Almada Online aproveitou a ocasião para realizar uma breve entrevista ao autor Eduardo M. Costa.

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Almada Online: Fale-nos um pouco do seu novo livro e da ideia por detrás da sua concepção.

Eduardo M. Costa: Trata-se uma viagem ao longo das últimas quatro décadas, e é também o meu contributo enquanto jornalista e cidadão, para o colectivo, para a comunidade. É um livro que permite um exercício de memória de 1983 a 2023. A obra divide-se em três partes. A primeiradiz repeito aos anos 80, onde colaborei em publicações como o DN-Jovem, O Setubalense, entre outras publicações, com crónicas de cinema e teatro, entrevistas a Romeu Correia, Manuel da Fonseca, Fernando Lopes Graça, Virgílio Martinho e José Saramago. A segunda parte, abrange o período que vai dos anos 90 até 2003, com colaborações nas revistas Tempo Livre, Vilas e Cidades, Sítios e Memórias, História, Estudios Estremeños e Alentejana, onde realizei entrevistas a Otelo Saraiva de Carvalho, Maria do Céu Guerra, Mário de Carvalho, António Chainho, André Gago, Jorge Listopad, Alexandre Castanheira, Carlos Godinho, José da Fonte Santa, João Honrado, reportagem sobre Expo 98, entre outros temas, e crónicas em diversas publicações. Contém também artigos científicos sobre as lutas socias durante a República, as rurais de Évora, a dos corticeiros de Almada, ou de outros temas como os Caretos de Ousilhão e o Canto de Intervenção. A terceira parte é sobre o período entre 2004 e 2023, com publicações minhas nas revistas Tempo Livre, Alentejo Terra-Mãe, Callipole, e na Folha de Montemor com a qual mantenho uma colaboração mensal e permanente desde 2010, e também no Diário do Sul, a Sul ou na Memória Alentejana, que dirijo desde 2000. Esta última parte engloba crónicas sobre personalidades como Mestre José Salgueiro, Mariana Maria, Custódio Gingão, um texto científico sobre José Afonso, entrevistas a Sérgio Tréfaut, Manuel Madeira Piçarra (o decano dos jornalistas portugueses), Ana Paula Amendoeira ou Rui Nabeiro, para além de diversos autarcas históricos como Rogério de Brito, Fernando Caeiros, Carlos Pinto de Sá, José Chitas, Victor Martelo, Abílio Fernandes e outros autarcas como Paulo Arsénio e Olímpio Galvão, e ainda outras personalidades como João Paulo Ramôa, Luís Raposo, José Manuel Castanheira ou José Veloso. Também nela constam a minha participação noutras rúbricas, onde destaquei figuras como Janita Salomé, Jorge Benvinda, Ana Baião, Carlos Balbino, Luís Afonso, Carlos Rosa, Jorge Serafim, e destaques literários ou discográficos a José Luís Peixoto, Dora Gago, ou Jorge Moniz. O livro surgiu da vontade de reunir estes trabalhos, sobretudo jornalísticos mas também um ou outro cientifico, um pouco no seguimento do livro reeditado em 2014, pelos 40 anos do 25 de Abril, cuja pimeira edição foi lançada em 2000, e do Cantores de Abril. Entrevistas a Cantores e outros Protagonistas do Canto de Intervenção, sobre 21 figuras deste género musical.

AO: O que podem os leitores esperar deste lançamento? Haverá animação musical ou outras iniciativas?

EMC: É sobretudo um encontro alargado de amigos e amigas, um encontro fraterno, de pessoas que amam a vida e gostam de partilhar emoções, onde haverá poesia de minha autoria, da Natália, do Manuel da Fonseca, dita pela minha mulher Ana Pereira Neto, que declama poesia magistralmente. O Pedro Tadeu, uma das grandes referências do Jornalismo da minha geração, um exímio analista e um amigo fraterno, decerto nos trará as suas palavras sábias. É um privilégio para mim poder reunir pessoas, como os que escreveram na abertura do meu livro, que pela sua acção são tão importantes para este país e têm disponibilidade para partilharem a sua sapiência, os seus afectos comigo, que sou apenas um cidadão inquieto que almeja e Liberdade e a Beleza.

AO: Dado o seu extenso curriculum como investigador, escritor e jornalista o que lhe falta fazer?

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EMC: Na capa, a foto tem um postigo aberto, foi alterado a meu pedido. Está tudo em aberto. Este ano comecei a colaborar na imprensa local de Almada. Em Dezembro de 2024 não o imaginava. Por uma simples casualidade voltei a escrever sobre cinema no Almada Online, tantos anos depois. Tenho diversos projectos sobre a História do Alentejo, sobre o Cante, sobre a importância das mulheres na história da Península Ibérica, sobre os Sefarditas, não sei se os vou concretizar. Sei que diariamente no associativismo, na investigação histórica, no jornalismo, na cidadania continuarei a trabalhar tendo como condição ser livre. A Liberdade, a beleza na poesia e na música, a dignidade do ser humano, são mais do que motivos para continuar. Sou radical nos princípios e tolerante no resto.

AO: Uma coisa que perguntamos sempre aos nossos entrevistados no Almada Online é qual o seu sítio peferido no concelho e porquê?

EMC: Gosto de estar a observar calmamente, o que acontece menos do que gostaria, certamente um dos rios mais magníficos do mundo, pois nenhuma outra capital europeia tem um rio assim e poucas terão esta luz que tanto embeleza Lisboa, vista aqui da Margem esquerda do Tejo. Gosto de estar no Almaraz, que tem uma visão estratégica sobre a entrada no Tejo, a imaginar como seria há três mil anos as embarcações Fenícias a chegarem à cidade que então ali existia, quando Lisboa era um pequeno povoado rodeado por pântanos. Gosto de subir ao terraço do meu prédio, que tem 17 andares, e imaginar há 500 anos como seria o então denominado “território de Almada”, que englobava também do Seixal e uma ponta de Sesimbra, então uma ilha separada pelo rio Coina e pela Lagoa de Albufeira do resto da Península de Setúbal

Eduardo M. Raposo nasceu em 1962 na Funcheira, em Ourique. Na Diáspora desde 1967, é Doutorado em História da Cultura e das Mentalidades Contemporâneas, pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas (FCSH) da Universidade Nova de Lisboa (UNL), com a tese “Fundamentos Históricos da Poesia Luso-Árabe na Nova Música Portuguesa (O Século de Almutâmide) o Amor e o Vinho”. É investigador no CHAM – Centro de Humanidades – na FCSH / UNL, e autor de trabalhos nas áreas de História, Biografia, Património e Etnoantropologia. É Técnico superior da Cultura na Câmara Municipal de Almada, e foi vice-presidente da Casa do Alentejo em dois mandatos. Foi também docente na Escola Superior de Educação de Santarém (de História e Património Cultural) e no Instituto Politécnico de Beja, além do Ensino Secundário (de Teatro). Foi conferencista convidado pela Casa da Música na Homenagem realizada em Abril de 2007 a José Afonso. Estuda a importância da poesia na música portuguesa, desde os poetas luso-árabes do século XI aos cantores de intervenção e à nova música portuguesa. Sobre o poeta do Século XI, Almutâmide Ibne Abade, dirigiu o espectáculo Papoila do Odiana – Dançar a Poesia de Almutâmide. É autor e apresentador do espectáculo Canto de Intervenção 1960-1974, que andou em digressão durante uma década. Foi fundador e é presidente do Centro de Estudos Documentais do Alentejo (CEDA). Coordenou colóquios internacionais e prémios literários, organizou jornadas de literatura em Montemor-o-Novo e homenagens a Adriano Correia de Oliveira, Almutâmide, Brito Camacho, Federico García Lorca, José da Fonte Santa, José Salgueiro, Urbano Tavares Rodrigues, Amílcar Cabral, Fausto e Jorge Sampaio. Foi director da revista Alma Alentejana e é, desde a sua fundação em 2001, director da revista Memória Alentejana. Dirigente associativo, é presidente da Associação Amigos da Cidade de Almada (AACA), concelho onde coordena o Grupo de Trabalho em prol da salvaguarda do Cante Alentejano. Iniciou-se no jornalismo em 1983, e é autor de varios artigos em periódicos nacionais e estrangeiros. Nos anos 80, a par da escrita, iniciou intensa actividade de intervenção cultural, e na década de 90 de investigação académica e associativa, que permanece. Participou na Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX (2010) , Casa do Alentejo. Cultura, Liberdade e Solidariedade – 100º Aniversário (2023), na colectânea de contos Liberdade (2024) da ASSESTA (Associação de Escritores do Alentejo). Publicou os livros José da Fonte Santa, Memória(s) (1999), Canto de Intervenção 1960-1974 (2007), Nova Antologia de Poetas Alentejanos (2013), Cantores de Abril  – Entrevistas a cantores e outros protagonistas do Canto de Intervenção (2014), Urbano, o Eterno Sedutor (2015), Uma Vida com História: Cláudio Torres (2019), Amor e Vinho – da Poesia Luso-Árabe à Nova Música Portuguesa (2020), ALMADA – O Associativismo e a AACA. 25 Anos de Cidadania (2022), . Actualmente é historiador, investigador, jornalista e dirigente associativo. Mantém intensa intervenção cultural, investigação académica e associativa, onde estão sempre presentes a busca permanente do ser e do belo. Na inquietação do “ser português” tem vindo a percorrer os caminhos da utopia do Sul imenso. Optimista céptico e tolerante radical, amante da Mátria Transtagana e alentejano de regadio, sacraliza a amizade e escreve como aprendeu.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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