Costa da Caparica | Da vida das marionetes

Um filme de Ingmar Bergman sobre obsessões, desejo e crime

O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme Da vida das marionetes  de Ingmar Bergman, no dia 21 de Setembro pelas 21h.

A relação do casal Peter (Robert Atzorn) e Katarina (Christine Buchegger) é conturbada. Peter, um executivo bem sucedido, dias depois de ter um sonho no qual mata a esposa, sai com uma prostituta (Rita Russek) com o mesmo nome e, mata-a de forma hedionda. O seu casamento começa a deteriorar-se ainda mais depois deste acto. O assassinato é chocante tanto para Peter quanto para os seus amigos e a sua mulher. Ele decide recorrer a um psicanalista para desmantelar a origem de seus mórbidos desejos sexuais. Numa reconstituição conduzida por um investigador policial (Karl-Heinz Pelser), viajamos pelas neuroses de Peter, como relatadas ao psicanalista, o Professor Mogens Jensen (Martin Benrath), a quem ele confessara querer matar a esposa Katarina, que ele ama tanto quanto odeia, numa relação em que ambos traem, mas procuram continuar, sem conseguirem ultrapassar os fantasmas que os afastam. O filme segue uma examinação não-linear das suas motivações, incorporando a investigação policial e cenas do quotidiano do casal.

Filmado durante o período em que Ingmar Bergman passou na Alemanha, em exílio voluntário, o filme continua a história de Katarina e Peter Egermann, o casal conflituoso e sem prole que surgiu num dos episódios de “Cenas da Vida Conjugal”. Nessa série surgem como um casal histérico e em crise que discute violentamente à frente de Johan e Marianne, os protagonistas e, faz com que esses se sintam gratos pela estabilidade e sucesso de seu casamento. Aqui somos levados para a intimidade desse casal e as coisas tornam-se mais subtis e complicadas. Esta é a narrativa das mais inconscientes e aumentadas angústias e, os medos que se desenvolvem, mais perigosos que as obsessões do personagem principal. O filme é todo construído em cima do paradoxo: o desejo de proximidade e afecto e a vulnerabilidade e dor que isso pode causar. A história é construída como um filme livro. A psicanálise torna-se a real protagonista da história, por descrever em riqueza de detalhes a libertação da vontade da acção criminosa em palavras.

Ingmar Bergman é um cineasta conhecido por seus temas densos e complexos, mas apesar da melancolia seus filmes normalmente apresentam lirismo e beleza. Não é o caso de Da Vida das Marionetes.

Da Vida das Marionetes talvez seja um filme menor de um grande cineasta, um dos filmes mais atípicos da obra de Ingmar Bergman,  mas é citado como influência por cineastas como Lars Von Trier e David Cronenberg. Nele Bergman revisita os seus temas e personagens recorrentes e constrói um filme pessimista, mas também o mais claro, em que todas as questões são respondidas.

1€ sócios | 2€ geral 

©DR/ A Vida das Marionetes é um dos filmes mais atípicos da obra de Ingmar Bergman.

Ficha Técnica: 

Título original: Aus dem Leben der Marionetten
Realização: Ingmar Bergman
Argumento: Ingmar Bergman
Produção: Ingmar Bergman, Lew Grade, Martin Starger
Elenco:   Robert Atzorn, Heinz Bennent, Martin Benrath, Toni Berger, Christine Buchegger, Gaby Dohm, Erwin Faber, Lola Müthel, Ruth Olafs, Karl-Heinz Pelser, Rita Russek
Fotografia: Sven Nykvist
Música: Rolf A. Wilhelm
Montagem: Petra von Oelffen
Género: Drama
Origem: Alemanha, Suécia
Ano: 1980
Duração: 99 minutos
Classificação: M/16

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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