Costa da Caparica | Mulholland Drive inicia ciclo de cinema dedicado a David Lynch

Em exibição a 6 de Fevereiro às 21h, no Auditório Costa da Caparica

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O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, leva ao ecrã do Auditório Costa da Caparica, o filme “Mulholland Drive”, de David Lynch (1946 – 2025), que dá início a um ciclo de cinema dedicado ao icónico realizador e argumentista norte americano, que decorre durante o mês de Fevereiro. Serão exibidos nas próximas semanas Blue Velvet (13), Lost Highway (20) e Wild at Heart (27).

Um acidente automobilístico na estrada Mulholland Drive, em Los Angeles, dá início a uma complexa trama que envolve diversos personagens. Rita (Laura Elena Harring), uma mulher que fica com amnésia depois de ter sofrido uma tentativa de assassinato, pretende descobrir quem a quer ver morta. Betty Elms (Naomi Watts), uma mulher alegre, frágil e algo ingénua, recém-chegada a Los Angeles com intenções de se tornar actriz em Hollywood, faz um casting com o realizador de cinema egocêntrico Adam Kesher (Justin Theroux), cujos produtores do seu filme são mafiosos e lhe impõem a protagonista. Quando ambas se conhecem, Betty ajuda Rita a investigar a sua identidade. A partir deste momento, o filme entra numa espécie de sonho, em que nada é o que parece ser e em que as personagens principais “sofrem” uma espécie de esquizofrenia, passando a ser Diane Selwyn (Naomi Watts) e Camilla Rhodes (Laura Elena Harring). Há ainda um “cowboy”, uma vidente, um teatro chamado “Silencio” onde uma voz canta uma versão do “Crying” em espanhol, alguns ilusionistas, uma mala cheia de dinheiro, uma misteriosa caixa azul, e claro, um anão. As narrativas vão entrelaçar-se de forma misteriosa e sombria, com personagens divididas entre o amor e a morte, o sucesso e o fracasso.

Uma história de amor na cidade dos sonhos. Parece simples, mas não é. Mulholland Drive é uma estrada pela qual se avança noite dentro para não mais sair. Metade zona residencial das estrelas de Hollywood, metade terra batida onde aspirantes a “starlettes” escolheram pôr termo às suas ilusões. O filme dá lugar ao debate sobre a identidade de género, a natureza porosa da realidade e as ramificações pessoais da fama.

Este é um thriller misterioso escrito e realizado em 2001, com um argumento onde imaginação e realidade se misturam, que ou se odeia ou se ama. Na altura da sua estreia, a visão sedutora e assustadora de David Lynch sobre da fábrica de sonhos que é Los Angeles, encantou tanto quanto incomodou. Os espectadores têm-se divido ao longos dos anos entre duas atitudes: ou captam um sentido e uma lógica que não existe, ficando desiludidos; ou deixam-se envolver pela abstração cinematográfica e as sensações que provoca, e adoram-no. Fascinante, confuso, labiríntico, hermético, onírico, sombrio e brilhante foram alguns dos adjectivos que a crítica lhe associou. De difícil interpretação, é um desafio para qualquer espectador, ao mesmo tempo que se tornou uma das obras-primas mais reconhecidas e indispensáveis do seu cinema. Mulholland Drive também é dedicado à ex-assistente de Lynch, Jennifer Syme, uma aspirante a actriz que morreu num acidente de viação, em Abril de 2001.

O risco assumido pelo autor de “Veludo Azul” foi recompensado com o prémio de melhor realizador em Cannes e uma nomeação na mesma categoria para os Óscares. É hoje amplamente reconhecido como um dos melhores filmes modernos, desafiando convenções, narrativas tradicionais e mergulhando profundamente nos seus elementos de mistério, psicologia e surrealismo.

David Keith Lynch nasceu em Montana em 1946. O aclamado argumentista e cineasta realizou a sua primeira longa-metragem, No Céu Tudo é Perfeito, em 1977, que se tornou um clássico de culto. Continuou depois a sua carreira a escrever e realizar filmes que, com o tempo, também se tornaram clássicos, entre os quais Eraserhead, (1977), O Homem Elefante (1980), passando por Dune (1984), Veludo Azul (1986), Twin Peaks (1992), Mulholland Drive (2001). Para televisão, criou a famosa série Twin Peaks (1990-1991), uma das suas obras mais marcantes. Seguiu-se o filme Wild at Heart (1990) – protagonizado por Laura Dern e Nicolas Cage que venceu a Palma de Ouro do Festival de Cannes de 1990- ,The Straight Story (1999), Lost Highway (1997), Mulholland Drive (2001) e Inland Empire (2006). Produziu vários programas para a web, como a animação Dumb bLand ( 2002) e a sitcom surreal Rabbits (2002).

Lynch é considerado um dos maiores autores do cinema contemporâneo, desafiando convenções do meio através de um modo particular de integrar o surreal e o inexplicável. Após ter estado presente na primeira edição do LEFFEST em 2007, a edição de 2018 prestou-lhe uma homenagem, exibindo vários dos seus filmes e uma exposição fotográfica também da sua autoria. Lynch criou algumas das imagens e temas mais distorcidos e inigmáticos da história do cinema. Conhecido por seus filmes surrealistas, desenvolveu seu próprio estilo cinematográfico, chamado de “Lynchiano”, caracterizado por imagens de sonhos e meticulosas bandas sonoras. Na verdade, o surreal e, em muitos casos, os elementos violentos de seus filmes deram-lhe reputação de “perturbar, ofender ou mistificar” seus públicos. Foi também pintor, fotógrafo, um artista visual. David Lynch morreu em 15 de Janeiro de 2025, aos 78 anos⁣

©DR / Rita (Laura Elena Harring), uma mulher que fica amnésica depois de uma tentativa de assassinato

Ficha Técnica:

Título original: Mulholland Dr.
Realização: David Lynch
Argumento: David Lynch
Produção: Pierre Edelman
Elenco: Naomi Watts, Laura Harring, Justin Theroux, Jeanne Bates, Dan Birnbaum, Randall Wulff, Robert Forster, Brent Briscoe, Maya Bond, Patrick Fischler, Michael Cooke, Bonnie Aarons, Michael J. Anderson, Joseph Kearney, Enrique Buelna, Richard Mead, Sean Everett, Angelo Badalamenti, Mark Pellegrino, Billy Ray Cyrus,
Música: Angelo Badalamenti
Fotografia: Peter Deming
Edição: Mary Sweeney
Género: Thriller, Drama
Origem: EUA, França
Ano: 2001
Duração: 145 min.
Classificação: M/16

1€ sócios | 2€ geral

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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