Almada | Azor – Nem uma Palavra
Um filme para ver no Auditório Osvaldo Azinheira da Academia Almadense, no dia 4 de Maio pelas 21h
Argentina, 1980. O banqueiro suíço Yvan de Wiel (Fabrizio Rongione) chega a Buenos Aires vindo de Genebra com a esposa, para investigar o desaparecimento súbito e sem deixar rasto do seu sócio, René Keys. A sua ausência irá tornar-se numa omnipresença incómoda.
Yvan de Wiel veio para a Argentina numa espécie de visita diplomática, para preencher a cadeira vazia deixada por Keys e, segurar os clientes abastados argentinos, que sentem o risco associado ao novo regime político da ditadura militar. É num circuito secreto de encontros mais ou menos aprazíveis, entre salas e salões elegantes, piscinas privadas e passeios a cavalo, que o banqueiro politicamente ingénuo vai descendo até à subtil versão do “coração das trevas”.
O filme não trata de perceber o linguajar da banca, de entrar naquele universo pelos seus códigos específicos, mas de captar a atmosfera do dinheiro. O verniz do privilégio. No caso, uma atmosfera particularmente malsã, com o terror de um período histórico a infiltrar-se na melancolia de alguns dos clientes, um deles pai de uma jovem desaparecida. O filme é uma simultânea economia e requinte das imagens, com um jogo de cores quentes e sombras que conduzem a paranóia de mansinho, em direcção não se sabe bem a quê, com poder sugestivo.
Azor, que na gíria bancária quer dizer “tem cuidado com o que dizes”, é um permanente suspense sobre os anos de chumbo da Argentina. Num clima sufocante, onde se desconfia de cada gesto e de cada sorriso, onde a traição e a denúncia espreitam atrás de cada porta, ao virar de cada esquina. Este é um thriller político sobre as relações perigosas da banca internacional com a ditadura militar argentina, em que um banqueiro suíço se mistura no inferno elegante da Buenos Aires ditatorial numa viagem sugestiva e densa. Um duelo entre moralidade e ganância, regra e excepção, poder e seriedade, visto ao mesmo tempo “por dentro” e “de fora” de uma sociedade fechada.
Vindo directamente da selecção oficial da Berlinale 2021, o filme é a primeira longa-metragem de Andreas Fontana.

Ficha Técnica:
Realização: Andreas Fontana
Argumento: Andreas Fontana, Mariano Llinás
Produção: Eugenia Mumenthaler, David Epiney
Elenco: Fabrizio Rongione, Stéphanie Cléau, Carmen Iriondo, Juan Trench
Fotografia: Gabriel Sandru
Música: Paul Courlet
Edição: Nicolas Desmaison
Género: Drama / Thriller
País: Suíça, França, Argentina
Ano: 2021
Duração: 1h 40 min.
Classificação etária: M/12