Almada | Manga D’Terra

Um filme de Basil da Cunha, que pode ser visto dia 18 de Setembro às 21h, no Auditório Fernando Lopes-Graça

Rosa tem 20 anos, é uma jovem mulher cabo-verdiana que deixa os filhos na sua terra natal e parte rumo a Lisboa, na esperança de lhes poder dar uma vida melhor. Num quotidiano controlado por gangues de rua, dominado pela violência policial e o assédio dos chefes mafiosos, é através da música e junto das mulheres da sua comunidade que vai encontrar conforto. A sua verve intimida os homens e as mulheres do bairro, que a vêem como uma estranha, ou uma ameaça, mas Rosa está determinada a lutar pelos seus sonhos.

A música que dá título ao filme, é densa, triste e cheia de sodade da “terra longe”, “meu manga d’terra”, onde as mangas são saborosas, por oposição ao sabor da vida que Rosa vive em Portugal. 

Esta é a terceira longa-metragem do luso-suíço Basil da Cunha. Depois de “Até Ver a Luz” (2013), que marcou presença na Quinzena dos Realizadores de Cannes, e de “O Fim do Mundo” (2019), que também estreou em Locarno, “Manga D’Terra” também é passado na Reboleira, na Amadora. É um filme sobre um espaço, uma comunidade racializada, em permanente ameaça de despejo, realojamento e destruição, mas que celebra a enorme vitalidade comunitária, e dá voz aos esquecidos e invisíveis da sociedade portuguesa.

A longa mostra o ponto de vista das mulheres insubmissas do bairro, com diálogos importantes e por vezes até divertidos, que trazem alguma leveza aos seus dramas diários.

“Queria fazer uma coisa em que as mulheres são o centro da história e mostrar a sua força. Queria mostrar tudo o que não mostrei nos meus filmes anteriores, que eram filmes de rapazes, de cowboys”, explicou Basil da Cunha, no Festival de Locarno, onde o filme teve a sua estreia mundial.

Quando alguém da equipa técnica é da classe média alta, sente um ambiente pesado, como que olhando para tudo com miserabilismo. “Há malta muito fixe, de esquerda, antirracistas, mas que [sem se aperceberem] mostram uma condescendência. Tenho sempre de pensar o que vou fazer para o pessoal sair desse registo e começar a rir e divertir-se nas filmagens”, acrescentou o realizador.

Basil da Cunha vive na Reboleira e filma essa realidade de dentro para fora, sendo os actores e actrizes, e muitas vezes também a equipa técnica, moradores do bairro.

“Conseguir fazer um filme, trabalhar naquilo que quero trabalhar, viajar para outros países, cantar para as pessoas ouvirem. Tenho tudo o que quero”, disse por sua vez Eliana Rosa na mesma ocasião. “Imensas vezes sinto esse assédio, os olhares, a falta de respeito. E sou igualmente imigrante, por isso sinto isso também. E sou cantora. Muito do que está no filme é também a minha história. (…) Tenho uma facilidade que muitos cabo-verdianos não têm. O meu pai veio há muitos anos para Portugal e passou mal aqui. Ele dizia-me sempre que quando eu viesse ia-me dar os documentos. Eu não ligava, não fazia ideia da importância disso. Agora que sou cantora e tenho de viajar a outros países, sei a importância disso tudo para um visto.”

Com a cantora cabo-verdiana Eliana Rosa a dar vida a Rosa, as canções foram registadas no momento, com som directo, sem recurso a pós-produção, Manga d’Terra conta também com a participação de vários moradores e ex-moradores do bairro da Reboleira. A banda sonora é da responsabilidade dos músicos cabo-verdianos Luís Firmino e Henrique Silva, criadores do colectivo Acácia Maior.

©DR / A Reboleira pelo olhar das mulheres do bairro.

Ficha Técnica:

Título original: Manga D’Terra
Realização: Basil da Cunha
Argumento: Basil da Cunha
Produção: Annick Bouissou
Elenco: Eliana Rosa, Evandro Pereira, Nunha Gomes, Lucinda Brito, Nuno Baessa, Vera Semedo, Gonçalo Ramalho
Fotografia: Patrick Tresch
Música: Luís Firmino, Eliana Rosa, Henrique Silva,
Edição: Basil da Cunha
Género: Drama, Musical
Origem: Portugal, Suíça
Ano: 2023
Duração: 96 min.
Classificação: M/14

Preço: 3,00€ (desconto de 50% jovens e séniores).

Os bilhetes podem ser adquiridos na bilheteira do Auditório Fernando Lopes-Graça uma hora antes do ínico da sessão.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

, , , , , , , , , ,