Falta de higiene urbana e sujidade nas ruas a caminho de um problema de saúde pública

Andar pelas ruas do concelho é triste, e ficamos envergonhados se temos alguém convidado que vem de fora, que quase espontaneamente refere que “isto está muito sujo” ou “nunca vi isto assim”.

Os trabalhadores que recolhem o lixo produzido pelos munícipes do Concelho de Almada, não são devidamente respeitados nem devidamente remunerados, e assim serão cada vez menos os que se sujeitam a um trabalho duro e penoso como este.

É curioso ouvir os responsáveis atuais dizer “admitimos que temos um problema” e comparar com o que diziam dos responsáveis anteriores, facto é, que se este problema vem de longe, nunca esteve tão mal como nos dias de hoje, e já não vale a pena responsabilizar o passado porque este grave problema é bem atual.

Andar pelas ruas do concelho é triste, e ficamos envergonhados se temos alguém convidado que vem de fora, que quase espontaneamente refere que “isto está muito sujo” ou “nunca vi isto assim”. Podia ilustrar-se com imagens, mas todos/as sabem bem do que se fala.

Já não vale a pena ignorar que temos um problema sério que urge ser resolvido, temos um problema sério de falta de trabalhadores para este sector, e temos um sério problema de gestão do executivo camarário, que não tem estado à altura de resolver esta situação. 

Diz a Câmara que vai “optar por uma prestação de serviços nesta área” mas avisa que “ vamos ver se respondem e não fica deserta como já aconteceu com outros”. É fácil constatar o nível de incerteza oferecido pelo executivo para debelar um problema que tinha que ser resolvido ontem, e é agora que se ouve falar de prestação de serviços, à partida sem nenhuma certeza de tal vir a acontecer.

Caminhar pelas ruas do concelho pode ser um exercício difícil, pois são inúmeras as situações a inspirar cuidados que não se resolvem com a celeridade desejada, e às vezes se mantém por semanas. É frequente ver pessoas, sobretudo mais idosas, a andar pela estrada. Isto deve-se ao mau estado dos passeios cujo piso apresenta bastantes irregularidades, muitas vezes com pedras soltas e enfeitados com dejetos caninos, que apesar dos dispensadores de sacos gratuitos algumas pessoas insistem em deixar no passeio.

Uma novidade são as pessoas que recolhem os dejetos do seu animal nos referidos sacos mas depois não os depositam nos contentores do lixo, e em vez disso, atiram-os para dentro de imóveis degradados e abandonados, com os contentores a uma distância não superior a 10 metros.

É triste mas é verdade, e alguma coisa tem que ser feita para mudar esta situação porque a juntar a tudo isto temos ervas a crescer por todo o lado, que se misturam com o lixo que vem trazido pelo vento. A varredura parece que só se destina a apanhar papéis, pelo que posso observar no dia a dia. 

Nos passeios, à volta dos ecopontos, juntam-se toda uma série de objetos que aí permanecem durante semanas, e até sacos de lixo orgânico são indevidamente colocados nesses locais, e ao permanecerem ali “convidam” a que outros cidadãos, que parece que não estimam o seu local de residência, aí acumulem mais sacos de lixo. Uma tristeza.

Depois da recolha dos ecopontos, há sempre lixo à volta dos contentores que nunca é varrido e colocado no local certo. Os contentores de lixo orgânico raramente são lavados, e neles ainda são depositados uma grande quantidade de resíduos que deviam ser colocados na reciclagem. Ainda há até quem coloque lixo nos contentores sem ser devidamente ensacado.

Há um trabalho sério de informação que está por fazer, não é de campanhas que precisamos, mas sim de informação contínua. Todos temos que contribuir para um melhor ambiente, mas à autarquia exige-se uma gestão rigorosa que não tem existido.

A existência de Caixas Metálicas junto às paredes dos prédios, com diversas finalidades, que se encontram muitas vezes enferrujadas, com mau aspeto, contribuem para um ambiente depressivo do espaço público, que não pode ser esquecido. A juntar a esta descrição é também preocupante verificar que no espaço existente entre as referidas caixas e a parede existem uns 7 a 8 centímetros, cheios de lixo que ali permanece por imenso tempo. Imenso tempo quer dizer ficar ali para sempre, porque não faz parte dos planos de limpeza do espaço público limpar atrás destas caixas, nem sequer encontrar uma solução para que aquele espaço seja preenchido com espuma de poliuretano ou outra solução, mas que impeça que ali se deposite lixo.

O entulho fica onde calha, as pessoas adquirem os sacos em locais que não asseguram a recolha do entulho, apesar das Freguesias disponibilizarem sacos próprios para entulho, e terem a responsabilidade de recolher os sacos depois de cheios, bastando para isso um simples telefonema. As pessoas ao fazerem obras não se informam desta possibilidade de aquisição dos sacos na Junta de Freguesia, e deixam sacos carregados de entulho a impedir a passagem e o estacionamento. 

Os serviços da autarquia deviam ter forma de informar convenientemente, nos locais de obras, que os sacos para entulho devem ser adquiridos na Junta de Freguesia ou União de Freguesias, mas tal não acontece. Uns não se informam, e outros não informam convenientemente, e as pessoas resignam-se e comentam que isto é o deixa andar, ninguém se importa. Vamos pagando o preço da indiferença que não é bom para ninguém, e que em democracia pode pagar-se muito caro.

É tempo de olhar com seriedade para as condições de trabalho, horários e remuneração dos trabalhadores deste sector, que têm que ser valorizados, e têm de fazer parte das preocupações da autarquia de forma séria. Não basta constatar que existe um problema, é preciso dar condições dignas para que os trabalhadores se mantenham no sector. 

Luis Filipe Pereira

Eleito pelo BE na União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas.

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