Partido carrista
Pode parecer estranho que o tempo para uma viagem de automóvel de Lisboa ao Porto ou ao Algarve tenha sido reduzido a metade, mas que para ir de Almada ao Centro de Lisboa se leve o mesmo, ou mais tempo que há 40 ou 50 anos. Nada a estranhar, está tudo no programa do Partido Carrista.
Nos tempos da “outra senhora” corria a piada de que a Autoestrada Lisboa Porto se perdia em Vila Franca e só se voltava a encontrar perto do Porto. Hoje, na falta de uma temos duas autoestradas Lisboa Porto e inúmeras autoestradas pelo país fora, algumas cuja razão é difícil de perceber. Em contrapartida a ferrovia, que já era deficiente, atrofiou-se e os transportes coletivos são escassos, mal-organizados e, muitas vezes, decrépitos. Parece que o partido que esteve no poder ao longo destas décadas foi o Partido Carrista.
Pode parecer estranho que o tempo para uma viagem de automóvel de Lisboa ao Porto ou ao Algarve tenha sido reduzido a metade, mas que para ir de Almada ao Centro de Lisboa se leve o mesmo, ou mais tempo que há 40 ou 50 anos. Nada a estranhar, está tudo no programa do Partido Carrista. Lisboa é uma das grandes cidades europeias em que mais se usa o automóvel, e o Porto ainda é pior, lá temos o Partido Carrista em ação.
A dinâmica é imparável, mais estradas, mais faixas, mais autoestradas. O sucesso deste partido é fácil de explicar, os portugueses ainda há pouco se libertaram da miséria e o automóvel é um símbolo de um estatuto “remediado”. Isso também explica a grande quantidade de automóveis caros que circulam nas ruas deste país que não sendo pobre à escala mundial, não terá riqueza para tanto. Da sardinha para três ao Mercedes para todos.
O resultado é desastroso, as cidades portuguesas, mesmo as pequenas, têm carros por todo o lado, entrar e sair nas maiores é um pesadelo. Em Lisboa entram diariamente quase 400 mil viaturas, quase sempre a transportar apenas o condutor. Rivaliza, na Europa, com algumas pequenas capitais e com Roma. Paris ou Londres, têm metade da utilização do automóvel.
Muitas cidades têm, neste momento, sistemas de dissuasão do uso do automóvel. Em Londres são portagens de quase 20 euros, Madrid e Barcelona têm grandes áreas vedadas ao transito. Lisboa não o pode fazer, tem transportes coletivos muito insuficientes. Além de insuficientes a ninguém lembra que haja necessidade de coordenação, muito menos que tenham um mínimo de qualidade. Barcos e comboios decrépitos contrastam com as frotas reluzentes dos administradores das empresas, ou até com o parque automóvel da cidade.
Cacilhas passou por grandes obras, mas, mesmo sendo um dos interfaces mais importantes de transportes, ninguém se lembrou de substituir a velha e decrépita estação da Transtejo, de tornar a espera por autocarros (que aliás é longa demais) confortável, muito menos de dar mais informação que uma folhas A4 nas paragens, mas ninguém parece preocupar-se.
O anúncio (calma que faltam muitos anos) da chegada do Metro à Costa lá despertou as suas reações, coisa horrível, até há locais que ficam com menos faixas de transito. Tanto esforço para derrubar árvores para fazer uma espécie da autoestrada para as praias e agora isto.
Um dos últimos anúncios do governo, que, entretanto, caiu foi a construção do Túnel Algés-Trafaria, ideia que uma associação “apartidária”, composta por elementos do PS, tem vindo a defender. A ideia inicial era um túnel apenas rodoviário, já que falamos de pessoas que julgam ter um status que os afasta dos transportes coletivos (o Partido Carrista), mas ao perceberem que sem carris não havia fundos comunitários, lá acrescentaram o transporte em carris. A hipótese não está contemplada no projeto para levar o MST à Costa e Trafaria e não se entende como se poderiam fazer as ligações nas duas margens.
É curioso como os custos destas obras são tratados, seria uma obra “barata”, apenas um mil milhões, diga-se que acabo de ver a estimativa de custos de um túnel num país nórdico e esses mil milhões seriam o custo por quilómetro, prevêem-se 8 km, é fazer as contas.
Também é apresentada como uma obra “fácil”. Um tubo de betão, numa zona sísmica, com um fundo irregular, numa zona de choque entre o mar e o rio, parece tudo menos fácil.
O resultado previsível seriam mais carros em Lisboa, mudando apenas o local do engarrafamento, aquilo que está mesmo a fazer falta. É o que se chama encontrar formas de agravar os problemas. Se há partido que precisa de ser derrotado nas próximas eleições é o “Partido Carrista”, mas isso é uma daquelas coisas em que tenho pouca esperança, as suas ramificações estão por todo o lado.
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