Restaurar a Natureza é Cuidar da Saúde
Restaurar ecossistemas, criar corredores e espaços verdes e proteger a biodiversidade, não são apenas medidas ambientais: são atos de saúde pública. A ciência é clara. Viver perto de espaços naturais (e não apenas os relvados verdes das rotundas) melhora significativamente a saúde física e mental.
Num tempo em que os sistemas de saúde públicos estão sob constante pressão — entre a escassez de recursos humanos, o aumento de doenças crónicas e os desafios de saúde mental — é urgente repensar as estratégias de promoção e prevenção em saúde. Uma dessas estratégias, frequentemente negligenciada, é o restauro da natureza.
Restaurar ecossistemas, criar corredores e espaços verdes e proteger a biodiversidade, não são apenas medidas ambientais: são atos de saúde pública. A ciência é clara. Viver perto de espaços naturais (e não apenas os relvados verdes das rotundas) melhora significativamente a saúde física e mental.
O acesso regular à natureza reduz o risco de doenças cardiovasculares, respiratórias e de saúde mental, como ansiedade e depressão. Crianças que brincam em ambientes naturais desenvolvem melhor a motricidade e a atenção. Adultos expostos à natureza dormem melhor, movimentam-se mais e têm níveis mais baixos de stress.
Mas há mais. Ecossistemas saudáveis funcionam como sistemas de defesa invisíveis: filtram o ar que respiramos, purificam a água que bebemos e reduzem a propagação de doenças. Zonas húmidas, por exemplo, controlam a proliferação de mosquitos e, com isso, limitam a transmissão de doenças. Florestas saudáveis ajudam a conter agentes patogénicos que, de outra forma, poderiam “saltar” de animais para humanos. Restaurar a natureza é, também, reduzir riscos epidémicos.
Num concelho como o nosso, onde os cuidados de saúde enfrentam limitações estruturais, o investimento na natureza torna-se não só sensato, como imprescindível. Ao integrar o restauro da natureza nas políticas públicas ao nível concelhio, podemos aliviar a carga sobre hospitais e centros de saúde. Podemos promover comunidades mais resilientes, menos dependentes de cuidados médicos e mais preparadas para enfrentar futuras crises sanitárias. E melhorar a qualidade de vida de cada um de nós.
Trata-se, no fundo, de uma mudança de paradigma. Deixarmos de ver a natureza como cenário e passarmos a vê-la como infraestrutura vital — não apenas para o bem-estar ecológico, mas para a nossa própria sobrevivência e bem-estar físico e mental.
Restaurar a natureza não é um luxo ambiental. É uma necessidade social. Num concelho com uma natureza deslumbrante, investir mais em natureza é também prosperar.
Almada Online, ambiente, Ângela Morgado, Crónica, Opinião

