Almada | 106º aniversário do escritor Romeu Correia

Reedição da obra "Um passo em frente", de Romeu Correia, com apresentação do Prof. Alexandre Flores

No dia 17 de Novembro Romeu Correia celebraria 106 anos. A Rede Municipal de Bibliotecas de Almada comemora a data com uma apresentação da reedição da sua obra “Um passo em frente”, com a apresentação do Prof. Alexandre Flores, na biblioteca do Fórum Municipal com o seu nome, pelas 19h. A entrada é livre.

“Um passo em frente”, uma obra editada uma única vez em 1976, é composto por 13 contos, O Emblema, A Relva e o Ovo, Flor de Sangue, Desporto Pobre, César, A Tampa do Bule, Monólogo, Cinema Falado, Um Passo em Frente, Mesa-Redonda, O Poeta, Dois Mil Contos e Encontro em Genebra. 

Trata-se de uma reedição que envolve décadas da vivência, ou imaginação, de Romeu Correia que se mantém neste livro igual a si próprio: um homem do povo que fala do povo que conhece.

Um júri constituído por Norberto Lopes, José Hermano Saraiva e Fernando Namora, atribuiu a este livro de contos de Romeu Correia o Prémio Ricardo Malheiros (1976) da Academia de Ciências de Lisboa.

Romeu Correia

Romeu Correia nasceu em Cacilhas a 17 de Novembro de 1917, e faleceu em Almada, com 78 anos, a 12 de Junho de 1996. Bancário de profissão, cedo revelou apetência pelas artes e pelo desporto. Foi escritor e dramaturgo autodidacta. Autor de contos, novelas, romances, peças de teatro, biografias e obras de divulgação da história de Almada, colaborou com revistas e jornais, como o suplemento cultural de O Comércio do Porto, Vértice, Sílex e Jornal Record, mas foi como ficcionista e dramaturgo que se destacou, inserindo-se inicialmente na corrente Neorrealista.

Iniciou o seu percurso como escritor em 1938, começando por escrever farsas carnavalescas, sendo “Razão”, a sua peça de estreia, representada pela primeira vez em 1940, por um grupo de teatro amador, em Almada. As suas obras são marcadas por uma forte ligação às fontes da literatura oral popular e, decorrem frequentemente em ambientes como os do circo, das feiras, do teatro de fantoches ou outros grupos marginais à sociedade, aliando, estas características a técnicas dramáticas do teatro de vanguarda. Paralelamente à carreira literária, Romeu Correia foi atleta de competição em atletismo, chegando a ser campeão de boxe amador.

Da sua vasta obra, distinguida com diversos prémios literários das décadas de 1960, 1970 e 1980 e traduzida para várias línguas como o mandarim, o alemão ou o italiano, destacam-se “Sábado Sem Sol”, livro que foi aprendido pela PIDE, “Cais do Ginjal”, “Calamento”, “Bonecos de Luz”, “O Andarilho das Sete Partidas”, “O Vagabundo das Mãos de Ouro”, entre outras, onde retrata os lugares e as gentes de Almada. Foi fortemente ligado às tradições populares e às colectividades de Almada.

Nas palavras do seu neto, Vasco Branco, aquando do seu centenário em Novembro de 2017, Romeu Correia “foi um homem de convicções fortes. Fiel às suas ideias. Fiel à democracia. Foi campeão de atletismo. Amava o desporto. Foi campeão de boxe. Mas parece-me a mim que o maior soco que ele deu na vida foi contra a injustiça social que via à sua volta. Deu esse soco com o seu trabalho, com os livros que escreveu e sobretudo com o seu exemplo enquanto cidadão, que fez pleno exercício da sua cidadania”.

Cidadão humanista e multifacetado, com uma profícua intervenção cívica no movimento associativo, Romeu Correia é o nome de um dos equipamentos culturais mais importantes do concelho de Almada, o Fórum Municipal, inaugurado em 1997.

Ao longo da sua carreira obteve as seguintes distinções: Prémio da Crítica Teatral (1962), Óscar de Honra da Casa da Imprensa (1962), Prémio da Imprensa Regional (1965), Prémio da Casa da Imprensa (1972), Prémio Académico Ricardo Malheiros (1976) com a obra “Um passo em frente” e, o Prémio 25 de Abril da Associação de Críticos de Teatro (1984). Muitas das suas obras foram traduzidas em Chinês, Húngaro, Checo, Alemão, Russo e editadas em Braille.

Pelo seu contributo na Literatura Portuguesa e também pela dedicação que sempre devotou a Almada, a Câmara Municipal homenageou Romeu Correia, em 1978, com a Medalha de Ouro da Cidade. Nos últimos anos da sua vida, Romeu Correia foi um dos dramaturgos mais representados por grupos amadores e profissionais de teatro em Portugal.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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