Ex-presidente da Transtejo ouvida no Parlamento
Marina Ferreira foi ouvida em sede parlamentar por requerimento de vários partidos, na sequência da demissão do conselho de administração da operadora fluvial. Hoje é a vez da actual presidente
Marina Ferreira foi ouvida ontem, dia 13 de Setembro, no Parlamento, na Comissão Parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, onde falou sobre o caso dos barcos comprados sem baterias, que levaram à demissão do conselho administração da Transtejo, ao qual presidia, depois de um relatório demolidor do Tribunal de Contas (TdC). Na sequência deste caso foi requerida a sua audição em sede parlamentar pelo Partido Comunista Português (PCP), Bloco de Esquerda (BE), Partido Socialista (PS), Iniciativa Liberal (IL) e Partido Social Democrata (PSD).
Seis meses depois da demissão, a antiga presidente da Transtejo teceu duras críticas ao relatório do TdC que chumbou a compra, por ajuste directo, de baterias para navios eléctricos novos. Disse que a linguagem usada pelo TdC foi “jocosa e inédita” e garantiu que a administração da Transtejo “não era inepta, sempre defendeu o interesse público e foi muito corajosa na decisão de comprar novos navios eléctricos”
A gestora garantiu que todo este processo foi muito desgastante e que, por defender o interesse público, levou uma “chapada” do Tribunal de Contas, que levaria à sua demissão em Março deste ano. “Foi um desgaste enorme, desgaste ditado pelo interesse dos passageiros, e levo uma chapada destas do Tribunal de Contas. Mentir ao Tribunal, mas eu sou maluca para mentir ao tribunal?”, indagou Marina Ferreira, concluindo que “então, para não mentir ao Tribunal, faz-se tudo como estava, mesmo que seja pior para o interesse público. É isso que nós queremos? É este país que nós queremos?”.
A antiga gestora da Transtejo levou uma declaração inicial escrita que durou mais de 30 minutos a ser lida, onde explicou todo o processo de aquisição dos novos navios e a decisão de comprar as baterias num outro contrato por ajuste directo.
Durante duas horas e meia, Marina Ferreira garantiu aos deputados que tudo o que fez foi em nome do interesse público e dos passageiros da operadora fluvial. Defendeu a compra dos navios eléctricos, que afirmou que “não se trata de experimentalismo, mas sim de inovação.” A gestora disse ainda que a decisão foi tomada “com base em vários estudos e pareceres e que foi uma decisão fundamentada e ponderada.”
Ao longo da audição, a antiga presidente do conselho de administração da Transtejo acabou por reconhecer que se fosse hoje teria feito de forma diferente. “Olhe, tinha ficado quietinha, tinha feito o que muita gente faz, tinha dito que não há dinheiro, que os barcos não funcionam. Todo este processo foi um grande desgaste para toda a equipa. Eu ganhei todos estes cabelos brancos”, disse aos deputados.
Os deputados questionaram sobre a opção pela compra dos navios eléctricos. A antiga presidente do conselho de administração explicou as vantagens, sendo uma delas a manutenção, que é muito menor do que nos actuais cacilheiros. “Eu acho que vamos ficar todos muito contentes quando os navios começarem a trabalhar, porque eu já tive a oportunidade de andar num desses navios (no Cegonha Branca) e, de facto, é uma experiência de navegação que não tem paralelo. Vai ser um grande sucesso de transporte público”, garantiu Marina Ferreira.
Questionada sobre qual foi a posição da tutela neste processo, Marina Ferreira reconheceu que foi pressionada pelo ministro do Ambiente da altura, Matos Fernandes, mas que a decisão de comprar os navios eléctricos e a opção do contrato de aquisição das baterias, por ajuste directo, foi da Transtejo e que “o Governo não ficou confortável com a decisão”.
Marina Ferreira demitiu-se da Transtejo na sequência do relatório do Tribunal de Contas que chumbou a compra pela Transtejo, por ajuste directo, de baterias para nove navios eléctricos novos, que considerou que foi enganado pela empresa quando aprovou a compra dos catamarãs e, em que acusava a empresa de “faltar à verdade” e de “prácticas ilegais e irracionais”, remetendo o caso para o Ministério Público. “A Transtejo comprou um navio completo e nove navios incompletos, sem poderem funcionar, porque não estavam dotados de baterias necessárias para o efeito. O mesmo seria, com as devidas adaptações, comprar um automóvel sem motor, uma moto sem rodas ou uma bicicleta sem pedais, reservando-se para um procedimento posterior a sua aquisição”, considerou o Tribunal de Contas.
Em causa estava a compra de nove baterias, pelo valor de 15,5 milhões de euros, num contrato adicional a um outro contrato já fiscalizado previamente pelo TdC para a aquisição, por 52,4 milhões de euros, de dez novos navios com propulsão eléctrica a baterias, para assegurar o serviço público de transporte de passageiros entre as duas margens do Tejo. Apenas um deles já incluía bateria, para testes.
Na sequência deste caso foi requerida a sua audição em sede parlamentar pelo Partido Comunista Português, Bloco de Esquerda, Partido Socialista, Iniciativa Liberal e o Partido Social Democrata, facto que hoje agradeceu aos deputados por “poder prestar contas aos contribuintes” sobre um projecto que, afirma, “teve o privilégio de lançar e acompanhar.”
“É especialmente gratificante fazê-lo depois de ter sido compelida a abandonar o projecto inopinadamente quando nos preparávamos com alegria para dar a conhecer o novo navio, o Cegonha Branca”, disse.
A Transtejo é responsável pela ligação do Seixal, Montijo, Cacilhas e Trafaria/Porto Brandão, a Lisboa, enquanto a Soflusa faz a travessia entre o Barreiro, e o Terreiro do Paço, em Lisboa.
As empresas têm uma administração comum sendo o conselho de administração hoje presidido por Alexandra Carvalho que hoje, 14 de Setembro, será também ouvida na Comissão Parlamentar de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação, no âmbito dos requerimentos apresentados pelo PCP, PSD, PS, BE e IL sobre “a aquisição de navios eléctricos e de baterias pela Transtejo”.
Transtejo defendeu frota de navios 100% eléctricos em 2019, mas Governo não aceitou a proposta
A ex-presidente do conselho de administração da Transtejo, Marina Ferreira, afirmou também na Comissão Parlamentar que “a renovação da frota podia ter sido mais célere se o Governo tivesse aceitado em 2019 a proposta de avançar para a compra de navios eléctricos.”
Desde Maio de 2018, explicou, “foi desenvolvido pela empresa muito trabalho para apoiar uma decisão 100% eléctrica, e que não avançou devido à orientação estratégica da tutela para limitar o procedimento a navios movidos a gás natural liquefeito (GNL)”. “Eu teria avançado mas quem define é a tutela no que respeita a politica energética. Sinto-me segura por ter seguido a orientação da tutela”, disse, adiantando que na sua opinião “a escolha de navios 100% eléctricos é a mais segura e com menos custos de manutenção.”
Apesar das opiniões divergentes a ex-presidente do conselho de administração da Transtejo considera que “a tutela não atrapalhou o processo.”
“Anos muito duros” com falta de barcos
Marina Ferreira admitiu que viveu juntamente com a sua equipa “anos muito duros” em que a empresa teve sempre a preocupação de que havia pessoas que queriam ir trabalhar e não tinham barcos, um facto que ainda permanece e que, segundo os deputados do BE Joana Mortágua e do PS André Pinotes Batista, tem sido “factor de discriminação dos residentes na margem sul prejudicando-os no acesso aos empregos na capital.”
Almada, Audição Parlamentar, baterias, cacilheiros, Dossier Transtejo/Soflusa, ex-presidente, frota, Marina Ferreira, mobilidade, navios eléctricos, Tribunal de Contas
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