O alargamento do IC20 e a ditadura das minorias
O que estamos a assistir é a gestão normal de uma rede de autoestradas que, além da sua necessária manutenção têm de ser requalificadas e alargadas, de acordo com um contrato de concessão que obedece a regras e parâmetros pré-estabelecidos e contratualizados.
O IC20 vai ser ampliado no seu traçado, passando de três para quatro vias. Esta constatação é um facto irreversível, não há qualquer dúvida.
Qual a razão de ciência desta obra que iniciou em outubro de 2023 e tem conclusão prevista para maio de 2025!? O objetivo é alargar os cerca de quatro quilómetros entre a “rotunda do centro-sul” e o acesso da A33.
De referir que o IC20 é propriedade da Infraestruturas de Portugal (IP), mas é a Autoestradas do Baixo Tejo, uma empresa privada integrada no universo do Grupo Brisa, que faz a sua gestão através de uma subconcessão. Aliás, este concessionário ainda faz a gestão de mais três autoestradas: A33; IC21; e IC3.
Ou seja, o que estamos a assistir é a gestão normal de uma rede de autoestradas que, além da sua necessária manutenção têm de ser requalificadas e alargadas, de acordo com um contrato de concessão que obedece a regras e parâmetros pré-estabelecidos e contratualizados.
Estas obras são positivas para o concelho de Almada, ou não? Claro que são positivas. Aliás, todas as obras que venham a facilitar a mobilidade no nosso concelho são positivas.
E quando estiverem concluídas em 2025, ainda faltará muita obra para fazer no nosso concelho. Por exemplo:
– Um túnel imerso rodoviário / metro ligeiro (Tram) entre Algés e Trafaria que ligaria à A33, fechando assim o arco IC17 – CRIL (Circular Regional Interior de Lisboa) / IC19 – Segunda Circular de Lisboa / Ponte Vasco da Gama / A33-IC32, estando a decorrer on line uma Petição Pública para a sua construção;
-Uma linha de metro ligeiro (Tram) entre o Monte de Caparica e a Costa de Caparica, e entre a Costa de Caparica e a Trafaria;
-Uma linha de metro ligeiro (Tram) entre Corroios e a Charneca de Caparica;
-Os novos navios (elétricos) da TTSL (Transtejo/Soflusa) estarem a funcionar em pleno;
-Mais um acesso rodoviário à A2 a sul de Corroios;
–Etcetera e tanto mais que ainda falta fazer.
Tudo isto integrado num desígnio maior que é a grande área metropolitana de Lisboa que, queira-se ou não, nos próximos dez anos vai crescer a sul em operações urbanísticas privadas e estatais e, consequentemente, em demografia. E isso obriga, necessariamente, a pensar de forma global e intensamente toda a rede de estradas, autoestradas, túneis, viadutos e pontes a sul do rio Tejo e no rio Tejo.
Nesse sentido podemos e devemos aplaudir o alargamento do IC20 em curso.
Ora, com esta dinâmica, surgem alguns (poucos) cidadãos que não concordam com o alargamento do IC20 e pretendem que ele bloqueie, sendo que os argumentos são, no seu essencial, os seguintes: mais estradas, mais veículos automóveis, mais poluição.
Dizem esses supramencionados cidadãos, aliás, uma minoria, que havendo novas estradas, autoestradas, túneis, viadutos e pontes, isso é um fator contributivo para o denominado “tráfego induzido”, ou seja, novas viagens de veículos automóveis são geradas, o que gera mais poluição.
São argumentos que não colhem, se não, vejamos:
Os veículos automóveis não vão deixar de existir. Estão a ser gradualmente substituídos, esses veículos automóveis de motor a combustão, por veículos automóveis de motor elétrico com emissões zero. Esses novos veículos automóveis elétricos têm de circular por estradas, autoestradas, túneis, viadutos e pontes. Se essas infraestruturas não existirem ou não forem suficientes, a nossa sociedade tal como a conhecemos, colapsará.
Dizem esses cidadãos que temos de utilizar mais a bicicleta e os transportes públicos. Estaremos sempre de acordo.No entanto, não é possível todas as pessoas deslocarem-se de bicicleta e/ou de transportes públicos. Há cidadãos que, devido às suas profissões, ou à distância que as suas habitações estão do seu local de trabalho, torna essa utilização da bicicleta e dos transportes públicos, impossível.
Somos da opinião que promover o uso da bicicleta como meio de transporte requer conscientização e educação. É necessário incentivar os cidadãos a adotarem a bicicleta como uma opção viável e segura, desde que seja possível a sua utilização. Sublinhamos, desde que seja possível a sua utilização.
As ciclovias devem ser integradas ao sistema de transporte público e outros modos de mobilidade, facilitando a combinação de diferentes meios de transporte, tornando a bicicleta mais uma escolha o que, aliás, tem vindo a ser feito pelos executivos da Câmara Municipal de Almada desde meados de 2005, com um forte incremento a partir de 2017.
Mas como é fácil de constatar pela fraca utilização da bicicleta, este meio de transporte tem pouquíssima adesão pelos munícipes do nosso concelho.
A verdade é que não podemos obrigar as pessoas a utilizar este ou aquele meio de transporte, o que temos é a obrigação e o dever de proporcionar aos cidadãos, todas as opções necessárias e suficientes para a sua mobilidade eficiente e prática.
Aliás, que se saiba, desde o Império Romano que construímos estradas, viadutos e pontes, e assim vai continuar a ser.
De referir por exemplo, a antiga estrada romana com 119 Km, que liga Antakya na Turquia a Alepo na Síria, não esquecendo a magnífica ponte de Chaves, em Trás-os-Montes, ordenada construir no ano de 104 dC pelo Imperador romano César Nerva Trajano Augusto Germânico Dácico onde, até ao ano de 2008, circularam veículos automóveis, estando pedonalizada desde então.
Almada Online, Crónica, Opinião, Pedro Dias Pereira, PSPor último dizer que nunca fomos pelas ditaduras, nem de maiorias, nem de minorias, sempre fomos pelas democracias, temos de viver com todos e todas, pautando os nossos comportamentos pelo respeito ao próximo, pois a nossa liberdade termina onde começa a liberdade dos outros. E essa liberdade tem de consistir em escolhermos a nossa forma de mobilidade como quisermos, seja de veículo automóvel privado, seja de transporte público, seja de bicicleta, ou outro qualquer meio de transporte.