Trânsito e Ruído em Almada – Acelerador e buzina

Deveria existir uma preocupação séria com as pessoas, com todas as pessoas, e um olhar cuidado em relação aos que têm a capacidade de deslocação reduzida, mas isso não acontece. As obras que se vêem no terreno têm como primeiro objetivo facilitar a vida ao automóvel, que em muitos casos tem um condutor que privilegia o acelerador e a buzina.

Os Almadenses estão habituados, melhor dizendo “ condenados ”, a conviver diariamente com o aumento do trânsito automóvel, e com o ruído que cada vez mais se faz sentir de modo intenso e agressivo. Os automobilistas apenas conduzem com a preocupação de acelerar e buzinar. A entidade máxima, que poderia ordenar o trânsito, tem apenas como principal preocupação a sua fluidez, criando mais faixas de rodagem nalgumas rotundas, com a ideia de que isso vai permitir escoar o trânsito automóvel. Pelo contrário, conseguem que a velocidade de circulação aumente de forma absolutamente exagerada, contribuindo para um aumento indesejável de acidentes.

Muitos automobilistas esquecem a vertente utilitária da sua viatura, e aceleram como se conduzissem num autódromo, esquecendo o respeito pelos peões. A Câmara, amiga do automóvel, alarga vias de circulação, promove objetivamente o aumento da velocidade, não mantém visíveis as passagens para peões. Nestas, deveria haver uma atenção especial em relação às pessoas invisuais, introduzindo um sinal sonoro onde existem semáforos.

Se durante o dia as passagens de peões estão pessimamente assinaladas, durante a noite são um perigo, sendo que em várias delas, o condutor só se apercebe da presença dos peões mesmo em cima da passagem. Era importante colocar pequenas luzes intermitentes a energia solar, que assinalassem as passagens de peões de forma visível. As entidades responsáveis conhecem bem esta realidade, então porque deixam que as coisas continuem em péssimo estado durante anos, não se vislumbrando nenhum plano, nem intenção de melhorar esta situação? Talvez seja assunto para campanha eleitoral, que depois é rapidamente esquecido. As pessoas merecem respeito! 

É muito fácil verificar o estado lamentável em que se encontram muitas passagens de peões, que se encontram praticamente invisíveis, colocando em risco os transeuntes, que numa sociedade que envelhece mereciam ser mais cuidados.

Deveria existir uma preocupação séria com as pessoas, com todas as pessoas, e um olhar cuidado em relação aos que têm a capacidade de deslocação reduzida, mas isso não acontece. As obras que se vêem no terreno têm como primeiro objetivo facilitar a vida ao automóvel, que em muitos casos tem um condutor que privilegia o acelerador e a buzina.

Durante o dia, o estacionamento indevido em frente a garagens ou em segunda fila provoca enervamento a quem quer sair ou entrar, e se vê privado de o fazer, e segue-se um festival de buzina que incomoda todos menos os que estão em falta. As pessoas têm sempre pressa, e o lema é o desenrasca e o salve-se quem puder. Temos todos obrigação de pensar nos outros, a vida do dia a dia já é tão complicada que impedimentos absolutamente desnecessários podem, e devem, ser evitados.

Vivemos em pleno século XXI e a inclusão deveria ser um dado adquirido, porque as pessoas com deficiência são pessoas com direitos consagrados na Constituição da República Portuguesa. No entanto, sabemos que apesar desses direitos consagrados na lei, o seu dia a dia é muito difícil, e tem muitas barreiras que já deveriam ter desaparecido. Há pois que renovar o apelo para que todos estejam em pé de igualdade, e recordo sempre um ensinamento de quem se debate com dificuldades de acesso: Uma rampa todos sobem e descem, já com as escadas não é assim. Não precisamos de declarações de intenções em relação às pessoas com deficiência, precisamos de ações. As pessoas com deficiência não podem ser os eternos esquecidos. 

A população além de estar bastante castigada pelo trânsito intenso, sobretudo nas horas de ponta, debate-se com uma situação de ruído excessivo. Por um lado, o ruído provocado pelos escapes das viaturas, por outro, o forte ruído provocado pelas potentes motos, cujos condutores gostam de assinalar a presença, quer quando páram, quer quando transitam, acelerando, provocando mau estar a todos à sua volta e a si mesmos. Mas perdoam o mal que fazem pelo prazer de se fazer ouvir.

Para aumento do ruído diário também contribui o ruído produzido pelo MST em algumas zonas. Nada contra o MST, mas sim contra a escassez da sua manutenção, que quando realizada convenientemente está provado que reduz significativamente o ruído. Então, a manutenção das rodas e carris deveria ser feita periodicamente, evitando de modo permanente os inconvenientes do seu barulho, mas também das vibrações transmitidas aos imóveis mais sacrificados pela passagem do MST.

Não podemos ignorar o ruído provocado pelas viaturas ao passarem na Ponte 25 de Abril, um estudo recentes da “dBWave.I”, o Mapa estratégico de Ruído na Ponte 25 de Abril, deixa claro a existência de ruído excessivo na Ponte.

Inicialmente o tabuleiro da Ponte tinha duas vias em cada sentido, mas depois de ter merecido obras de engenharia de grande relevo e complexidade no seu alargamento no final dos anos 90, passou a contar com seis vias de circulação automóvel. “Na ponte suspensa as vias da esquerda e parte das vias da direita, são em gradil metálico aberto”, são estas vias as responsáveis pela propagação do ruído que se faz sentir em algumas zonas de Almada.

No referido relatório pode ler-se que: “Da análise dos resultados dos mapas de ruído conclui-se que a Ponte 25 de Abril provoca situações de sobre-exposição ao ruído. As situações mais criticas ocorrem na proximidade do acesso de Alcântara (…) na área urbana do Pragal e do Hospital Garcia de Orta.” Mais: “Da análise dos resultados da população exposta, conclui-se que a Ponte 25 de Abril apresenta um número significativo de pessoas expostas a níveis superiores a 65 dB.”

Num futuro próximo, de acordo com o DL 146/2006 e tendo em conta algumas situações de potencial sobre-exposição ao ruído, esta infraestrutura será objeto de um Plano de Ação para Redução do Ruído, em que essas situações serão analisadas mais em detalhe. Neste plano de ação, e uma vez identificadas as eventuais situações concretas de sobre-exposição, serão levadas em conta medidas de proteção já implementadas e outras previstas, e estudadas eventuais medidas adicionais de controlo e gestão do ruído. 

A poluição do meio ambiente agrava a crise climática, se lhe juntarmos a poluição sonora, temos um conjunto sério de problemas que contribuem para agravar, e muito, a saúde das pessoas.

É tempo de olhar com seriedade para estes problemas e agir, a população do Concelho de Almada merece!

Luis Filipe Pereira

Eleito pelo BE na União das Freguesias de Almada, Cova da Piedade, Pragal e Cacilhas.

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