Almada, as adolescentes e a roupa larga…

Almada nunca foi uma Terra envergonhada! Almada nunca se escondeu de nada! Almada foi triste, sim, como Portugal foi triste! Mas resistiu! Sempre! De cabeça bem levantada e cara aberta, enfrentando com tenacidade, coragem e determinação todos aqueles que tanto tentaram, ao longo dos tempos, desvalorizar, apoucar, menorizar, espezinhar a honra e o orgulho de que nos enchemos por nos sentirmos Almadenses!

Algumas vozes, investidas de um poder que deveria ser utilizado, também, para refrear ímpetos de linguagem pouco informados, e menos rigorosos ainda, revelando uma triste ignorância sobre a vida e a história do Concelho de Almada, se têm levantado nestes últimos tempos, não apenas para tentar apagar a memória do empolgante e poderoso percurso de 44 anos de progresso e desenvolvimento de que vos falei o mês passado, mas indo adiante, e aproveitando o momento da celebração do 50º Aniversário da elevação de Almada à condição de cidade – elevação cujas verdadeiras origens e motivações fazem por ignorar, aliás! –, tentar também denegrir aquilo que Almada é, aquilo que Almada sempre foi.

Procuram, essas vozes, afirmar uma Almada envergonhada, uma Almada escondida, uma Almada triste, uma Almada que, afinal, só nas suas mentes de “imigrantes ignorantes” existe, ou alguma vez existiu. Só quem não conhece, só quem não quer, sequer, conhecer Almada, as suas gentes e a sua história, pode assemelhar a Cidade que somos a adolescentes e roupas largas! Só um absoluto (e deliberado?) desconhecimento, profundamente arrogante como sempre se afirma todo o desconhecimento deliberado, se pode permitir a um dislate de tal dimensão.

Almada nunca foi uma Terra envergonhada! Almada nunca se escondeu de nada! Almada foi triste, sim, como Portugal foi triste! Mas resistiu! Sempre! De cabeça bem levantada e cara aberta, enfrentando com tenacidade, coragem e determinação todos aqueles que tanto tentaram, ao longo dos tempos, desvalorizar, apoucar, menorizar, espezinhar a honra e o orgulho de que nos enchemos por nos sentirmos Almadenses!

Nunca nos envergonhámos de uma luta tenaz e permanente em defesa da justiça, da solidariedade, da amizade e do progresso para todos – não apenas para muitos! –, que tantos e tantos milhares de Almadenses corajosamente assumiram e protagonizaram.

Nunca nos escondemos das lutas que foi preciso travar, contra a ignomínia de um poder autocrático, ditatorial e repressivo como foi o fascismo. À miséria, ao analfabetismo e à exploração, que ditavam as leis nesses tempos obscuros e tristes que os portugueses foram forçados a viver, Almada e os Almadenses lutaram e resistiram, e gritaram sempre bem alto, presentes!, profundamente orgulhosos e nunca envergonhados, de corpo e alma abertos e nunca escondidos!

A grande transformação de Almada, o extraordinário e pujante caminho percorrido, que, não obstante ter sido interrompido em 2017, foi o caminho que nos trouxe até aos dias de hoje, até esta Cidade profundamente respeitada nas quatro partidas do mundo, admirada, mesmo, em muitos dos aspetos da vida quotidiana que as autarquias locais e a sua população resistente, ousada nos objetivos e anseios, corajosa e determinada, souberam construir, é o legado mais importante e valioso de todos aqueles que assumem, orgulhosamente, a sua condição de Almadenses.

Esse caminho interrompido tem de ser retomado!

Esse caminho interrompido tem de ser retomado, mesmo que pareça, hoje, fortemente ameaçado por uma visão e um olhar vagos e visceralmente vazios, sem brilho nem entusiasmo, por uma visão e um olhar que teimam em valorizar aquilo que é acessório e “bonitinho”, teimam em confundir desenvolvimento e progresso com uma idílica mas falsa imagem de si mesmos, refletida num qualquer espelho semelhante ao dessa sinistra personagem da ficção que responde pelo nome de Rainha Malévola, ou Rainha Má na Branca de Neve e seus Sete Anões, ou teimam em mover-se a partir das dicas de uma qualquer revista feminina, uma visão e um olhar que nada acrescentam de substancial ao Concelho e às pessoas, e não percebem que se Almada estagnou, como pensam, foi pela sua própria e manifesta incapacidade de intervir de forma positiva na construção de soluções e na resposta aos reais problemas e aos reais anseios de Almada e dos Almadenses.

Almada continua a não ser, hoje mesmo, uma terra envergonhada e escondida. Resiste, como resistiu (e venceu) no passado. Mesmo com esta certeza, que Almada resiste, oxalá Almada e os Almadenses não venham a sentir a necessidade, no futuro, de se envergonhar, e quiçá até de se esconder, destes tempos mais recentes que lhes estão a ser impostos.

Oxalá!

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João Geraldes

Membro da Assembleia Municipal de Almada, eleito na lista da Coligação Democrática Unitária