Ciclovias e a “Cidade dos 15 minutos”

No dia 2 de abril do corrente ano, 106 cidadãos residentes no Concelho de Almada assinaram uma “Carta aberta: Por uma ciclovia ao longo da linha do metro para a Costa da Caparica”. Abordemos este tema.

No Concelho de Almada a rede de ciclovias está em desenvolvimento desde 2005, tendo tido um substancial incremento desde 2017. Recentemente, foi concluída uma nova ciclovia na Estrada Florestal, na freguesia da Costa da Caparica. Essa ciclovia permite que os moradores e visitantes do Concelho de Almada se desloquem de bicicleta desde a Trafaria e até ao longo das praias da Costa de Caparica, melhorando substancialmente a mobilidade de quem se desloca nesse território.

Aliás, essa supramencionada ciclovia liga Lisboa às praias da Costa de Caparica, possibilitando apanhar o barco em Lisboa, sair na Trafaria, e chegar à praia de bicicleta, o que passou, recentemente, a ser uma realidade. De referir ainda, não menos importante, uma ciclovia em fase final de construção na Avenida do Mar, na freguesia de Charneca de Caparica e Sobreda.

A expansão das ciclovias no Concelho de Almada (ou em qualquer outro território) enfrenta alguns desafios importantes. 

A criação de ciclovias requer espaço físico adequado nas vias existentes. Em áreas urbanas densas, encontrar espaço para acomodar ciclovias sem prejudicar o tráfego de veículos pode ser complexo.

A construção e manutenção de ciclovias exige recursos financeiros, ou seja, são necessários investimentos contínuos para expandir uma rede de ciclovias e garantir que elas sejam conservadas e seguras.

Promover o uso da bicicleta como meio de transporte requer conscientização e educação. É necessário incentivar os cidadãos a adotarem a bicicleta como uma opção viável e segura, desde que seja possível a sua utilização.

As ciclovias devem ser integradas ao sistema de transporte público e outros modos de mobilidade, facilitando a combinação de diferentes meios de transporte, tornando a bicicleta uma escolha prática.

O planeamento urbano deve considerar a mobilidade sustentável ab initio. Isso envolve projetar vias e espaços públicos que acomodem ciclistas de maneira eficiente e segura.

Em resumo, a expansão das ciclovias em Almada requer uma abordagem holística que leve em consideração aspetos físicos, financeiros, culturais e de planeamento. Com um trabalho continuado, é possível superar esses problemas identificados e criar uma rede ciclável mais ampla e eficiente. 

No entanto, nem tudo são rosas no tema que hoje abordamos.

Deslocar-se de casa para o trabalho e depois de volta para casa tornou-se muito complicado e desesperante nas grandes cidades. Os cidadãos enfrentam quilômetros e horas no trânsito, desgastando-se, poluindo, e tirando tempo à família. Por outro lado, os utilizadores de transportes públicos lidam diariamente com o desconforto da sobrelotação de autocarros, comboios e metropolitanos. Assim sendo, a bicicleta tem sido apontada como solução por ser um meio de locomoção económico com a vantagem de não poluir o meio ambiente e ainda ajudar o utilizador a manter o corpo e a mente saudáveis.

No entanto, no Concelho de Almada, somos da opinião que este meio de transporte apenas resulta nas curtas deslocações entre bairros, ou entre bairros e o território de praia em atividade de lazer, não nos parecendo viável nas deslocações de e para o local de trabalho dos munícipes de Almada que, na sua maioria esmagadora, trabalham na margem norte do rio Tejo. Há que mudar este paradigma.

Temos de considerar fazer evoluir o nosso território para o conceito urbano da “Cidade dos 15 minutos”, onde cada pessoa pode ter acesso ao seu local de trabalho, e também a todos os serviços essenciais como hospitais, centros de saúde, espaços verdes e de lazer, escolas e equipamentos culturais, tudo a uma distância máxima de 15 minutos a pé ou em transportes de mobilidade suave como a bicicleta.

Este conceito foi pensado e criado em 2016 pelo cientista franco-colombiano Carlos Moreno, urbanista especialista em sistemas complexos, que vive em Paris há mais de 20 anos, e é professor na Sorbonne. 

Mais tarde, a ideia foi adotada pela presidente da Câmara de Paris, a socialista Anne Hidalgo, que ganhou um segundo mandato com ela, o que demonstra a popularidade do conceito.

As “Cidades dos 15 minutos” são construídas a partir de uma série de bairros de 5 minutos, também conhecidos como comunidades completas ou bairros caminháveis. O conceito pode ser descrito como um retorno a um modo de vida local, à vida simples e de vizinhança, que em última instância pode reumanizar as nossas cidades.

“Ou seja, não chega desenvolver tecnologias para ter uma mobilidade mais limpa. A ideia é que temos de reduzir, mesmo radicalmente, a mobilidade nas cidades”, explicou Carlos Moreno. “A ideia que tivemos foi propor um novo estilo de vida urbano num perímetro curto, para todas as funções sociais essenciais, que são seis: viver, trabalhar, comprar, cuidar, educar e divertir-se. É um grande incentivo à bicicleta.”

E, de facto, o nosso Concelho de Almada pode ser essa “Cidade dos 15 minutos”, assim todos nós queiramos.

Pedro Dias Pereira

Advogado e Deputado Municipal eleito pelo PS na Assembleia Municipal de Almada.

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