Almada | Music Hall

A peça pode ser vista de 14 de Abril a 14 de Maio, na Sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite. De Quinta a Sábado às 21h e Quartas e Domingos às 16h

A Companhia de Teatro de Almada leva à cena da Sala Experimental do Teatro Municipal Joaquim Benite a peça “Music Hall”. Com texto de Jean-Luc Lagarce e encenação de Rogério de Carvalho, pode ser vista de 14 de Abril a 14 de Maio, de Quinta a Sábado às 21h e, Quartas e Domingos às 16h.

Em cena, deparamo-nos com uma cantora de music-hall em decadência (Teresa Gafeira). Ladeada pelos seus dois acólitos e validos, os seus dois Boys (João Farraia e Pedro Walter), eis-nos perante uma Rapariga que nos revela as suas desventuras cénicas. Conta-nos a sua história, a um tempo divertida e patética, que não é mais que o percurso de uma por assim-dizer vedeta que, na verdade, toda a vida só actuou em salas de segunda ordem. Torna-se, por isso, praticamente inevitável identificarmo-nos com esta artista claudicante que, apesar das dificuldades técnicas e da falta de público, nunca abdica dos seus ensejos de criação e da sua vontade de representar.

E as luzes, brutalmente, ao som da minha voz…Como que ao som da minha voz’. E as luzes apagavam-se. E isto começava, e eu, a Rapariga, esquecia tudo, que mal é que isso faz? Esquecia tudo e lá ia eu, falava-lhes, e o resto, o gravador, a ausência de gravador, o ‘com corrente’ ou o ‘a pilhas’, tudo isto, no fundo da minha alma…Bem, da minha alma não… No fundo de mim mesma, no meu foro íntimo (é assim que se diz?), na minha fortaleza interior, não pensava mais nisso. E sorria.

Excerto de Music-Hall, de Jean-Luc Lagarce, tradução de Alexandra Moreira da Silva

Nas várias peças de teatro que escreveu, o francês Jean-Luc Lagarce (1957-1995) preocupou-se sobretudo com as questões da frase em si, do tempo e da montagem-colagem. Nos seus textos nunca nada está completamente fechado. Nunca há uma verdade que se imponha. As suas frases emanam um encantamento doce, feito de aparentes redundâncias e de uma temporalidade quase imóvel. Este “quase” diz respeito à sua subtileza na abordagem dos temas, própria de uma fineza de espírito, que lhe agudiza os sentimentos. Através da utilização de uma língua que vigia sem cessar, o autor diz o máximo com o mínimo de efeitos. No que toca ao tratamento do tempo, Lagarce começa por escrever sobretudo para um futuro próximo. Mas, pouco a pouco, vai-se voltando para o presente, o que lhe foi cada vez mais difícil, a partir do momento em que foi atingido pela sida, aos trinta anos de idade. Só no período final da vida começou a escrever sobre o passado. Estão editadas em português peças suas como As regras da arte de bem viver na sociedade moderna, Estava em casa e esperava que a chuva viesse, Music- Hall, História de amor (últimos capítulos), Últimos remorsos antes do esquecimento, e Tão só o fim do Mundo.

©CTA / Teresa Gafeira interpreta uma cantora de music-hall em decadência.

Ficha Técnica:

Companhia de Teatro de Almada
Texto: Jean-Luc Lagarce
Encenação: Rogério de Carvalho
Elenco: Teresa Gafeira, João Farraia e Pedro Walter
Tradução: Alexandra Moreira da Silva
Cenografia: José Manuel Castanheira
Figurinos: Bárbara Felicidade
Luz: Guilherme Frazão
Som: André Oliveira
Movimento: Cláudia Nóvoa
Voz e elocução: Luís Madureira
Caracterização: Márcia Vale
Assistentes de encenação: Marco Trindade e Nicole Alves
Direcção de montagem: Guilherme Frazão
Montagem: André Oliveira, Bento da Silva, Carlos Janeiro, Daniel Polho, Paulo Horta e Tiago Fernandes
Operação de som e luz André Oliveira
Duração aprox.: 1h20m
Classificação: M/12

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Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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