Caparica | Conversa dos Capuchos I – Mário Cesariny
Hoje, dia 28 de Maio pelas 17h, o poeta Mário Cesariny de Vasconcelos é homenageado nas Conversas dos Capuchos
Hoje, dia 28 de Maio pelas 17h, o poeta Mário Cesariny de Vasconcelos é homenageado nas Conversas dos Capuchos, englobadas na edição deste ano do Festival de Música dos Capuchos.
Irá interrogar-se o que há “Entre nós e as palavras” nesta primeira sessão de três, das Conversas dos Capuchos, que marca também o centenário do nascimento de Mário Cesariny.
A sessão juntará três conhecedores profundos da obra de Cesariny: o poeta e crítico de arte Bernardo Pinto de Almeida, o escultor e editor Manuel Rosa e, o ensaísta e professor universitário António Feijó, actual Presidente do Conselho de Administração da Fundação Gulbenkian.
Mário Cesariny de Vasconcelos foi um pintor e poeta português. Natural de Lisboa, a sua formação artística inclui o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e estudos na área de música, com Fernando Lopes-Graça. Mais tarde, viria a frequentar a Academia de La Grande Chaumière, em Paris, cidade onde conheceu André Breton, em 1947.
Rapidamente atraído pelas propostas do movimento surrealista francês, tornou-se um dos mais importantes defensores do movimento em Portugal. Ainda nesse ano, com os poetas António Pedro, José-Augusto França, Fernando Azevedo e Alexandre O´Neill, entre outros, foi um dos fundadores do Grupo Surrealista de Lisboa.O trabalho do grupo assume um caráter político de resistência ao regime que dominava o país, além de estabelecer-se como alternativa ao neo-realismo que dominava as letras de Portugal naquele momento. Mais tarde, fundou o grupo dissidente, que se queria “anti-grupo”, Os Surrealistas, com O´Neill mais uma vez e com poetas como Pedro Oom.
Cesariny, figura sempre inquieta e questionadora, afastava-se assim, de maneira definitiva, do movimento neo-realista. Passou a adoptar uma atitude estética de constante experimentação, logo visível nas suas primeiras colagens e pinturas informalistas realizadas com tintas de água, e distribuídas no suporte de forma aleatória. Seria este princípio anárquico que conduziria a obra de Cesariny ao longo da sua vida,incluindo a sua produção poética, que o autor considerava construir a partir deste desregramento inicial das suas experiências na pintura.
A continuidade da sua prática plástica levá-lo-ia, portanto, a seguir uma corrente gestualista, por vezes pontuada de um corrosivo humor. Dinamizador da prática surrealista em Lisboa, Cesariny iria criar «antigrupos», com a mesma orientação mas questionando e procurando um grau extremo de espontaneidade, tentativa também visível na sua obra poética.
Participou, em 1949 e 1950, nas I e II Exposições dos Surrealistas, pólos de atenção de novos pintores, mas ignoradas pela imprensa. Crescentemente dedicado à escrita, Cesariny viria a publicar as obras poéticas Corpo Visível (1950), Discurso Sobre a Reabilitação do Real Quotidiano (1952), Louvor e Simplificação de Álvaro de Campos (1953), Manual de Prestidigitação (1956), Pena Capital (1957), Nobilíssima Visão (1959), Poesia, 1944-1955 (1961), Planisfério e Outros Poemas (1961), Um Auto para Jerusalém (1964), As Mãos na Água a Cabeça no Mar (1972), Burlescas, Teóricas e Sentimentais (1972), Titânia e a Cidade Queimada (1977), O Virgem Negra. Fernando Pessoa Explicado às Criancinhas Naturais & Estrangeiras (1989), e a obra de ficção Titânia (1994). A edição da sua obra não segue linearmente a cronologia da sua produção. Corpo Visível é o volume em que as características surrealistas são já dominantes — em textos anteriores, a denúncia social aproximava-se, por vezes, do neo-realismo, embora já em Nobilíssima Visão esta escola fosse objecto de um olhar crítico.
O humor, o recurso ao non-sense e ao absurdo, são marcas da escrita de Cesariny, de uma ironia por vezes violenta, que incide sobre figuras e mitos consagrados da cultura portuguesa e ocidental. Da sua obra escrita sobre a temática do surrealismo, que analisou e teorizou em vários textos, fazem parte A Intervenção Surrealista (1958), a organização e autoria parcial da Antologia Surrealista do Cadáver Esquisito (1961), a antologia Surreal-Abjection(ismo) (1963), Do Surrealismo e da Pintura (1967), Primavera Autónoma das Estradas (1980) e Vieira da Silva – Arpad Szènes, ou O Castelo Surrealista (1984).
Homossexual declarado num momento e país em que isto ainda provocava incômodo, Mário Cesariny manteve-se como um “resistente” e “dissidente” até o fim de sua vida, lutando contra os que tentavam fazer de sua obra “passado domesticado.”
A entrada custa 4€, com descontos para maiores de 65 anos, menores de 25 anos e profissionais do espectáculo.
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