Costa da Caparica | 9º Festival de Fado Ercília Costa
Nos dias 12 e 13 de Outubro, a Associação Gandaia apresenta o 9º Festival de Fado Ercília Costa, no Auditório da Costa da Caparica
A Associação Gandaia, como já é tradição anual, organiza o Festival de Fado Ercília Costa. Na sua 9ª edição, este festival que já se tornou parte do ADN da Costa da Caparica, este ano leva ao Auditório do Centro Comercial Pescador uma dezena de fadistas, numa homenagem à caparicana Ercília Costa, a primeira fadista portuguesa a ter projecção internacional.
Assim, dia 12 de Outubro às 21h sobem ao palco do Auditório Costa da Caparica Tina Santos, Ana Marta, Catarina Rosa, Marco Oliveiro e Valéria Carvalho acompanhados na guitarra portuguesa por Guilherme Banza, e André Ramos na viola de fado.
No Domingo dia 13 de Outubro às 16h, os fadistas que prestam a sua homenagem à “sereia peregrina do fado” são Natalino de Jesus, Francisco Moreira, Marta Alves, Mariana Lopes Correia e Rita Alves. Na guitarra portuguesa estará de novo Guilherme Banza e, na viola de fado Pedro Saltão
A apresentação do festival estará a cargo da fadista almadense Ana Margarida Leal.
Os bilhetes custam 10€ por dia e, 15€ para os dois dias da homenagem.
As reservas podem ser feitas pelo mail reservas@gandaia.info ou pelo telefone 937 446 925. Os bilhetes estarão à venda na bilheteira do Auditório, e também podem ser adquiridos aqui.

Quem foi Ercília Costa?
Ercília Botelho Farinha Costa, conhecida por Ercília Costa nasceu na Costa da Caparica a 3 de Agosto de 1902 e faleceu em Algés, a 16 de Novembro de 1985. Foi uma actriz de revista, compositora e fadista portuguesa. Quando tinha apenas 3 anos a sua família mudou-se para a Rua Maria Pia em Lisboa, o que resultou no grande carinho que a fadista tinha pelo bairro de Alcântara.
Foi a primeira fadista portuguesa de projecção internacional. Popular na primeira metade do século XX, tempos em que recebeu as alcunhas de “Sereia peregrina do Fado”, “Santa do Fado” e “Toutinegra do Fado”, o seu nome é hoje pouco recordado, pois as gravações discográficas que realizou são anteriores à década de 1950, altura em que o disco gravado começou a popularizar-se em Portugal.
Nasceu filha de pescadores, ou não tivesse nascido numa zona cuja economia se baseava principalmente na pesca, o que indica logo à partida um meio humilde, onde o Fado servia de regozijo para muitos. Quase por acaso, tornou-se fadista ao apresentar-se no Conservatório de Lisboa, em resposta a um anúncio de jornal, que anunciava a procura de cantores para uma récita no Teatro de São Carlos. Apesar de ter sido uma das seleccionadas, o projecto acabou por ser cancelado,
Regressou à margem sul do Tejo. Eugénio Salvador, actor que com ela se havia cruzado no Conservatório, convida-a para o teatro, lembrado da voz que escutara naquele dia e, assim entra Ercília ainda adolescente para a companhia do Teatro Maria Vitória. Já o seu início de carreira como cantadeira de Fado deu-se no ano de 1927, no Teatro da Trindade, onde fez um dueto com Alberto Reis mas, como revelou Ercília Costa ao jornal Trovas de Portugal: “Antes mesmo de cantar o Fado já eu cantava em teatro… Na Companhia Almeida Cruz andei três meses pela província, contratada como corista.”
Em 1930 a fadista vence o 1º prémio de cantadeira, no Concurso de Fados do “Sul América”, uma organização do jornal “Guitarra de Portugal”. O intérprete masculino vencedor foi Alfredo Marceneiro, com quem integra, pouco tempo depois, a “Troupe Guitarra de Portugal”, um conjunto de fadistas e instrumentistas que fazem digressões pelo país. A este grupo pertenciam também os fadistas Rosa Costa e Alberto Costa e, os instrumentistas João Fernandes e Santos Moreira.
Ao longo da década de 1930 Ercília Costa, a exemplo do que já vinha acontecendo com Adelina Fernandes, fará parte das fadistas convidadas para o teatro de revista, substituindo as intervenções de actores no Fado, criando assim um espaço próprio de apresentação dos profissionais do Fado, que será seguido por grandes nomes como Berta Cardoso ou Hermínia Silva.
Destacam-se na sua ligação ao teatro de revista as peças “Feira da Luz”, levada à cena em 1930 no Teatro da Trindade; “O Canto da Cigarra”, apresentada, no ano seguinte, no Teatro Variedades, onde Ercília Costa fez um grande sucesso com o tema “Fado Lisboa”, de autoria de Álvaro Leal e Raúl Ferrão; ou, ainda, “Fogo de Vistas”, em 1933, no Teatro Avenida; “Fim do Mundo”, em cena no Coliseu dos Recreios, em 1934; e “A Boca do Inferno”, apresentada em 1937 no Teatro Apolo.
A fadista fez, também, algumas aparições no grande écran, nos filmes “Amor de Mãe”, realizado por Carlos Ferreira em 1932, “Amargura”, “Lisboa 1938” e, por último, na longa metragem “Madragoa”, onde interpretava o papel de mãe do protagonista, personagem a cargo de Carlos José Teixeira. Nesta película de Perdigão Queiroga, estreada em Janeiro de 1952, participavam, ainda, Estevão Amarante, Helga Liné, Silva Araújo, Costinha e a fadista Deolinda Rodrigues.
Embora estreando como actriz de revista, e tendo actuado com vedetas como Luísa Satanella ou Beatriz Costa, foi como fadista que mais se destacou. Ercília Costa exibiu-se ao vivo na rádio, nas emissões da primeira estação de Portugal, a Chiado CT1AA e, em retiros e casas típicas, como o Ferro de Engomar ou o Solar da Alegria, mas cedo teve oportunidade de realizar longas digressões de espectáculos, em Portugal e no estrangeiro.
Em 1932, acompanhada por João da Mata, Armandinho e Martinho d’ Assunção, faz espectáculos na Madeira e nos Açores e, em 1936 faz a sua primeira saída do país, para apresentações no Brasil, iniciando uma série de deslocações de longa duração, que a tornarão na primeira fadista a internacionalizar-se junto das comunidades emigrantes.
Na sua primeira ida ao Brasil fazia parte da Companhia de Vasco Santana e Mirita Casimiro, mas o seu sucesso foi de tal forma estrondoso que acabou por permanecer uma longa temporada nesse país, regressando apenas no ano seguinte, em 1937, altura em que Lisboa lhe realizou duas festas de homenagem, uma no salão de chá do Café Chave d’ Ouro e outra no Retiro da Severa.
Ainda nesse mesmo ano, Ercília Costa vai a Paris, para fazer espectáculos na sala Comédie Française nos Campos Elíseos. Em 1939 desloca-se, a convite do Secretariado de Propaganda de Portugal, aos Estados Unidos, para fazer um espectáculo no Pavilhão Português da Feira Internacional de Nova Iorque, acompanhada por Carlos Ramos.
A esta actuação na grande exposição de Nova Iorque seguem-se dez meses de actuações por inúmeras cidades dos Estados Unidos, apresentando-se a fadista com grande êxito na Califórnia, onde actua em Los Angeles e em Hollywood.
Em 1945 faz a sua terceira digressão no Brasil, a qual durou quinze meses, com espectáculos em teatros, cinemas e actuações na rádio. Nesta temporada Ercília Costa é integrada, como única artista portuguesa, na Companhia de Alda Garrido.
Muitas vezes apelidada de ”Santa do Fado”, por colocar as mãos em posição de oração, Ercília Costa é hoje pouco recordada, fruto possivelmente da falta de reedição em formato CD das muitas gravações que fez. Neste formato encontra-se apenas disponível uma recolha das suas gravações com Armandinho, editada em 1995 na colecção “Arquivos do Fado” da Tradisom.
As suas primeiras gravações discográficas datam de 1929, altura em que se deslocou a Madrid para gravar pela Odeon, integrando uma comitiva constituída por Berta Cardoso, Joaquim Campos e Cecília de Almeida, sendo todos os fadistas acompanhados pela guitarra portuguesa de Armandinho e pela viola de Georgino de Sousa. Posteriormente terá também edições discográficas em Portugal, bem como no Brasil e nos Estados Unidos. O seu último registo discográfico, o LP “Museu do Fado” data de 1972.
Ercília Costa popularizou inúmeros temas como: “Amor de Mãe”, “O Meu Filho”, “Fado Tango”, “Fado Aida”, “Fado Ercília”, “Juro” ou “Fado da Amargura”, sendo também compositora de alguns dos seus maiores êxitos, caso de “Fado da Mocidade” e de “O Filho Ceguinho”, este último vulgarizado no meio fadista como o “Menor da Ercília”.
A fadista resolveu dedicar-se inteiramente ao seu casamento e, sem despedidas, retirou-se da vida artística em 1954. Ercília Costa não fez mais espectáculos ao vivo até à data da sua morte, em 1985, aos 83 anos.
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