D. Américo Aguiar: “devo fazer eco dos gritos e da voz daqueles que se sentem mais esmagados e mais esquecidos”
Bispo de Setúbal deixa claro que irá denunciar injustiças e defender os mais defavorecidos
O cardeal D. Américo Aguiar falava na cerimónia de tomada de posse canónica como bispo de Setúbal, realizada ontem, 26 de Outubro, na igreja de Santa Maria da Graça, Sé de Setúbal, no dia em que também se completaram 48 anos sobre a ordenação episcopal de Manuel Martins como primeiro bispo de Setúbal (1975/1998), a que se seguiram Gilberto Canavarro dos Reis (1998-2015) e José Ornelas (2015/2022).
Na cerimónia de tomada de posse do novo bispo de Setúbal, estiveram presentes, entre outras personalidades, o Patriarca de Lisboa, D. Rui Valério e o Patriarca Emérito, Cardeal D. Manuel Clemente, embaixadores e vários deputados autarcas da região, entre eles Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada e, também D. Duarte Pio de Bragança.
Na saudação que dirigiu aos presentes na Sé de Setúbal e aos que acompanharam a transmissão on-line da cerimónia, o novo bispo não prometeu “absolutamente nada”, porque diz que quer conhecer, “olhos nos olhos”, “coração a coração”. “Vamos ter de fazer trabalho. Começa já amanhã às 9h00 da manhã”, indicou.
“Não se resolvem problemas contra ninguém”, defendeu mas “a verdade nunca deve ser colocada de lado, nem escondida em razão dos poderes políticos ou das amizades, ou das circunstâncias diversas [das pessoas] com quem nos damos no dia a dia da nossa vida”. “A verdade e, acima de tudo, a dignidade da pessoa humana, a subsidiariedade, a solidariedade, o bem comum, são balizas, são colunas essenciais daquilo que vai ser o trabalho que eu farei com a diocese de Setúbal. Eu sou apenas mais um que, em razão, porventura da visibilidade e da responsabilidade que tenho, devo fazer eco dos gritos e da voz daqueles que se sentem mais esmagados e mais esquecidos nos problemas que no dia-a-dia vamos tendo”, foram as primeiras declarações de D. Américo Aguiar aos jornalistas, já como bispo de Setúbal. Referindo-se à situação social no país disse que, “no contexto de uma maioria parlamentar, era expectável que as coisas fossem mais calmas e os problemas principais pudessem acolher uma resposta mais célere”.
Em relação ao conflito na Terra Santa afirmou que “basta que outros actores entrem no conflito e nós temos imediatamente uma terceira guerra mundial”, afirmou.
Naquela que foi a sua primeira intervenção pública como bispo de Setúbal, D. Américo Aguiar deixou transparecer a ideia de que não irá poupar nas palavras para denunciar as injustiças e para defender os mais desfavorecidos da Península de Setúbal, uma região que disse tem sido prejudicada pela “má vizinhança de Lisboa”.
“O que é certo é que, pelo facto de Setúbal ter sido integrada dentro dos critérios económicos e financeiros da capital, foi prejudicada nas últimas décadas por não ter acesso a fundos comunitários. São milhões e milhões [de euros] que não chegaram à península de Setúbal em razão dessa `má vizinhança´”.
“E agora já foi decidido que a partir de 2027, a NUT (Nomenclatura das Unidades Territoriais para Fins Estatísticos) é destacada. E Setúbal vai ter possibilidade de respirar e de usufruir de fundos comunitários. Só quem não quiser ver. Olhamos para o país e o antes e o depois dos fundos comunitários faz toda a diferença. E a Península de Setúbal foi verdadeiramente prejudicada por estar inserida nos critérios de Lisboa”, frisou.
D. Américo Aguiar afirmou-se igualmente preocupado com a existência de mais `fait-divers´ do que diálogo e concertação nas sedes de decisão do país.”Há sempre um ruído muito grande à volta de todas as questões. Agora, quando nós conhecemos a vida dos professores, a vida dos médicos, a vida dos polícias, a vida dos homens e mulheres das Forças Armadas, a vida das empregadas domésticas, a vida de qualquer trabalhador, a mim dói-me muito quando as pessoas chegam ao fim do mês e o seu ordenado não permite corresponder àquilo que são os seus compromissos”, disse.
“E isso é o primeiro nível de gravidade e de urgência a que nós, como sociedade, temos que corresponder, porque se os meus amigos ganham 800 ou 900 euros durante dez, 20, 30, 40 anos, isto não vai a lado nenhum. Não é possível sonhar, não é possível construir uma família, não é possível construir um Portugal moderno e um Portugal com futuro para todos”, acrescentou D. Américo Aguiar, sobre alguns dos principais problemas que afectam os portugueses, como a habitação, o ensino e a saúde.
Para o novo bispo de Setúbal, tantos problemas exigem o empenhamento de toda a sociedade portuguesa, que não pode perder “por falta de comparência”. “Nós queixamo-nos, nós vamos para o café, nós vamos para as redes sociais, mas chega o dia das eleições e metade dos portugueses ficam em casa no sofá. Ora assim não vai, assim não vai”, avisou o novo bispo de Setúbal.
Após a leitura da bula papal que nomeia o Cardeal D. Américo Aguiar como IV Bispo de Setúbal e da assinatura da acta de tomada de posse, o novo bispo recebeu um azulejo comemorativo oferecido por uma família com um filho abençoado pela Papa Francisco à porta da Nunciatura Apostólica, durante a JMJ em Lisboa.
Nas primeiras 48 horas do seu ministério episcopal na diocese sadina, o novo bispo de Setúbal tem já previstas diversas visitas a instituições da sociedade civil associadas à segurança, saúde, assistência social, educação e desporto.
Hoje, Sexta-Feira estão previstas visitas de cortesia ao Comando Territorial de Setúbal da Guarda Nacional Republicana (GNR), Comando Distrital da Polícia de Segurança Pública (PSP), Hospital de São Bernardo, Centro Distrital da Segurança Social, Capitania do Porto de Setúbal, Instituto Politécnico de Setúbal e ao Vitória Futebol Clube.
Ainda durante o dia de hoje, pelas 21h15, D. Américo Aguiar terá o primeiro encontro com os jovens da diocese na “Vigília de Oração pela Escuta, o Diálogo e a Paz”, promovida pelo Departamento da Juventude na Igreja Nossa Senhora de Fátima, na Torre da Marinha, no concelho do Seixal.
No Sábado, o novo bispo de Setúbal visita os Bombeiros Voluntários de Setúbal, a Comissão Diocesana de Protecção de Menores e Pessoas Vulneráveis e, a Casa da Nossa Alegria, da responsabilidade das Missionárias da Caridade.
A Missa de entrada em Setúbal do IV bispo da diocese vai ser presidida por D. Américo Aguiar no próximo Domingo, na catedral, às 16h30.
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