O TMJB em 2025 é feminino, diverso e com vários monólogos
Marguerite Duras, Maria Rueff, Maria do Céu Guerra, Teresa Gafeira e ainda Joël Pommerat e Jon Fosse
A Companhia de Teatro de Almada (CTA) apresentou no Sábado passado, 4 de Janeiro, a Programação para 2025 do Teatro Municipal Joaquim Benite (TMJB). Este ano o TMJB irá acolher 48 espectáculos de teatro, dança e música, três exposições, e um programa alargado para as crianças, com 13 peças e 25 sessões de oficinas criativas. A entrada era livre, a sala esteve cheia e o ambiente foi caloroso, apesar da noite chuvosa no exterior.
Foi com sala cheia de eleitos, criadores, artistas, membros do Clube de Amigos do TMJB e público em geral, que Rodrigo Francisco, director artístico da CTA; Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada (CMA); e Américo Rodrigues, Director-Geral das Artes (DGArtes), cumpriram uma das tradições almadenses: a apresentação da programação para o novo ano do Teatro Azul, a casa da CTA.
Rodrigo Francisco destacou da programação as três novas criações da CTA, e outras peças âncora da programação de 2025. Uma barragem contra o Pacífico, com texto biográfico e seminal de Marguerite Duras, e encenação de Álvaro Correia (14 de Março a 6 de Abril) será a grande heroína desta temporada. O texto, uma esteia absoluta em Portugal, narra a história de uma mãe e os seus dois filhos, que vivem no Sul da Indochina em 1931, que investiu todas as suas economias, ganhas como pianista de cinema durante 15 anos, num terreno que acabou por se revelar incultivável, e em que todos os anos as plantações são alagadas pelas marés altas. A mãe, que será interpretada por Teresa Gafeira, tenta travar o destino – algo impossível- construíndo barragens, que são desmoronadas ano após ano pelas águas do Pacífico. “Conta também a história de dependência entre os membros da família e o seu conflito geracional. É um texto que fala de colonos pobres, enganados por um regime colonial, que nos leva a olharmos para nós próprios, e para os nossos retornados de África”, disse Rodrigo Francisco. “Vai contra a ideia de que os colonos eram sempre ricos e prepotentes”, acrescentou. Faz pensar na raiva acumulada pelos seus dois filhos brancos, pobres, que buscaram o seu quinhão e só encontraram a falta de horizontes, e o mesmo sentimento com que os retornados das ex colónias africanas chegaram à Metrópole, muitos sem nada, a não ser sonhos destruídos. Essa raiva, fomentada pela educação, que ainda persiste nos seus descendentes, ajuda também a explicar sentimentos de ódio e xenofobia que têm ressurgido na nossa sociedade.
O segundo grande destaque feito pelo director artístico da CTA, foi a peça Elogio do riso, da autoria de Maria Rueff e Rodrigo Francisco (31 de Outubro a 30 de Novembro). Os criadores debruçaram-se sobre as origens do riso, “algo que a Maria Rueff já queria ter tido tempo para fazer. Estudar o fenómeno do riso e colocar isso em cena. Temos vindo a fazer uma pesquisa desde os gregos, como é o caso de Aristóteles com a sua poesia cómica desaparecida; passando pela parte física do riso que passa pelas vísceras e pelo diafragma; a diferença entre rir com alguém e rir de alguém; a dor por detrás do riso de muitos cómicos; a ideia de que Deus nunca riu, desmistificada pelo manifesto futurista A contrador de Aldo Pallazeschi”, pormenorizou Rodrigo Francisco. No fundo, tem sido uma caça ao riso, que leva à conclusão que não há conclusões sobre o riso, por ele ser tão multifacetado. O texto resultante será um monólogo interpretado por Maria Rueff, com figurino de Dino Alves e movimento de Hajo Schüller, um actor e encenador que o público almadense conhece bem, através da companhia alemã Familie Floz.
A terceira criação da CTA para a temporada de 2025 é uma peça para a infância: A Música Mágica de Mozart (29 de Novembro a 21 de Dezembro), com criação de Pedro Proença e Teresa Gafeira. “Esta é uma música mágica, tão mágica que, dizem, produz ‘o efeito Mozart’ nos meninos que a ouvem. Os bébés deixam de chorar e ficam logo bem dispostos, os mais crescidos não fazem birra para comer a sopa, e os ainda mais crescidos fazem os trabalhos da escola”, pode ler-se no programa. Teresa Gafeira volta a levar a música e a vida dos clássicos, ao público mais pequeno da CTA, como já tinha acontecido anteriormente em Pastéis de nata para Bach, Händel…lá com essa música!, ou ainda Verdi que te quero Verdi.
Rodrigo Francisco destacou ainda, o regresso em Julho, durante o Festival de Almada, cuja programação integral será apresentada no próximo mês de Junho, do encenador francês Joël Pommerat, com Marius, a partir de Marcel Pagnol (13 e 14 de Julho). A peça tem a particuaridade de ter nascido numa prisão de alta segurança em Arles, depois da muita insistência de Jean Ruimi, um condenado com pena prolongada com o “bichinho do teatro”, da visão da directora da prisão e do director dos serviços de reinserção, juntarem Joël Pommerat a esta história de redenção através do teatro. Jean Ruimi será um dos actores em palco.
Foram ainda destacadas por Rodrigo Francisco, as encenações de Maria do Céu Guerra, De Mary para Mary (18 e 19 de Janeiro) num monólogo do texto de Paloma Pedrero, desempenhado por Rita Lello, da Barraca; de Hugo Franco, A Rua do Inferno (de 31 de Janeiro a 2 de Fevereiro) pela Comuna, onde Maria Ana Filipe, Sílvia Figueiredo e Susana Blazer que trabalham num supermercado partilham o mesmo amante sem o saberem, num trajecto emocional caótico; de Daniel Gorjão, MARIA (21-23 de Fevereiro) um monólogo para Carla Galvão, que surge da sequência de um trabalho de adaptações de obras, pelo Teatro do Vão, nas quais o foco incide sobre mulheres, de Tiago Guedes, À primeira vista (17 de Maio), também um monólogo de Margarida Vila-Nova; de Teresa Sobral, Class Enemy (23-25 de Maio); de Martín Bontempo, com Suavecita (10-12 de Outubro) outro monólogo com interpretação de Camila Peralta; e de António Simão, Vento forte, ( 17-19 de Outubro), num texto de Jon Fosse, pelos Artistas Unidos.
Música
Em comunicado a CTA destaca no campo musical, para além do Teatro Nacional de São Carlos (com os Grandes coros de ópera, em Janeiro, e um Concerto de Páscoa, em Abril) o TMJB acolhe em Maio/Junho três concertos do Festival de Música dos Capuchos. Passarão também pela Sala Principal do TMJB intérpretes como Rita Vian (Fevereiro), JP Simões (Abril), Club Makumba (Maio), Prétu (Setembro), Ana Lua Caiano e Katia Guerreiro (ambas em Dezembro). Com o apoio da Share Foundation e da Antena 2, haverá ao longo do ano um ciclo de cinco concertos de música de câmara, com alguns dos finalistas e vencedores do Prémio Jovens Músicos e comentários de Alexandre Delgado.
Dança e exposições
Na dança, a Companhia Nacional de Bailado traz em Julho ao TMJB um programa duplo que inclui Quatro cantos num soneto, de Fernando Duarte, e The Look, de Sharon Eyal. No âmbito da 5.ª Mostra Internacional de Artes Performativas de Almada, organizada pela Casa da Dança em Abri/Maio, sobem ao palco coreografias da francesa Nacera Belaza (L’envol), do brasileiro Cristian Duarte (E nunca as minhas mãos estão vazias), da grega Katerina Andreu (Mourn baby mourn) e do português André Uerba (Aeffective Choreography). Em Outubro Paulo Ribeiro traz a Almada Maurice accompagné, e em Dezembro a dupla Solange Melo / Fernando Duarte apresenta Murmúrios de Pedro e Inês.
As exposições em destaque são Diário de uma República, com fotografias de Augusto Brázio e Nelson D’Aires, As Mulheres em Gil Vicente (17 Março – 07 Junho), e O Mário que se lixe! O Viegas é que é fixe! (31 de Outubro – 21 de Dezembro).
A ligação da CTA a Almada, aos almadenses, à autarquia e à Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses
Américo Rodrigues, Director-Geral das Artes, salientou o reconhecimento que a DGArtes “tem pelo trabalho da CTA e do TMJB, um exemplo que cito por todo o país”, mencionando a Rede de Teatros e Cineteatros Portugueses, e “o sistema de apoios à programação destes espaços, do qual as autarquias foram durante muitos anos os únicos responsáveis pelos apoios, e que agora o governo central também apoia”. Na sua opinião “uma grande vitória, pela qual gostaria de continuar a lutar e até aperfeiçoar, com a circulação das companhias de teatro e dança pelo país e por estes espaços, promovendo um acesso democrático à cultura em todo o território, e uma verdadeira democracia cultural, em que os espectadores decidem ou protagonizam as peças em conjunto com as companhias.”
Inês de Medeiros chamou a atenção para o facto “de uma sala cheia na apresentação de uma programação, ser a prova de que o trabalho cultural e o teatro faz sentido”. Salientou também “o compromisso muito firme, ainda antes de eu aqui estar, do município, dos serviços da CMA e dos eleitos e autarcas pela Companhia de Teatro de Almada”, e a “colaboração na programação do Festival de Música dos Capuchos e da Casa da Dança”, e terminou afirmando que “não são os governos que determinam a cultura que se faz, mas que apoiam essa cultura , que tem de ser sempre totalmente livre.”
Comprar Bilhetes
Pode aceder à programação completa do TMJB para 2025 aqui, e à compra de bilhetes de forma digital clicando em cada espectáculo que lhe interesse, e seguindo depoois a ligação no fim de cada folha de sala do mesmo, ou ainda clicando aqui e escolhendo o espectáculo que prefere.
Relembramos ainda, que os membros do Clube de Amigos do Teatro Municipal Joaquim Benite têm entrada gratuita nas criações da Companhia de Teatro de Almada, 50% de desconto nos bilhetes para os espectáculos acolhidos, e uma redução de 20% no valor da Assinatura para todos os espectáculos do Festival de Almada: a adesão anual a este Clube faz-se na bilheteira do teatro ou aqui no site da CTA.
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