Nova frota da Transtejo: “Embarcou-se numa aventura”
A frase é de Paulo Silva presidente da Câmara do Seixal, depois de reunião com a administração da transportadora fluvial
Na passada Segunda-feira, 11 de Novembro, a autarquia do Seixal reuniu-se com a presidente do Conselho de Administração da Transtejo, Alexandra Ferreira de Carvalho. Neste encontro, o presidente da Câmara Municipal do Seixal (CMS), Paulo Silva, apresentou o seu protesto pela constante supressão de carreiras que fazem a ligação entre o Seixal e o Cais do Sodré.
Em comunicado, a autarquia do Seixal considera “que é visível que o serviço público desenvolvido pela Transtejo no concelho do Seixal tem sido deficiente, deixando, devido à constante supressão de carreiras, muitos utentes com dificuldades em chegar à capital.” Segundo a mesma fonte, “esta redução de carreiras tem originado uma redução de utilizadores, que procuram alternativas para se deslocarem, entre as quais o transporte individual ou o comboio, sendo visível neste último, uma sobrelotação que também piora a qualidade das deslocações neste meio de transporte.”
No encontro com os responsáveis da transportadora fluvial, os mesmos referiram ao edil da Câmara do Seixal, que no mês de Outubro de 2024, registou-se a supressão de 89 carreiras fluviais, sendo que a maioria das supressões ficou a dever-se a problemas com o carregamento das baterias dos navios eléctricos.
O presidente da Câmara Municipal do Seixal, Paulo Silva, refere que “a autarquia do Seixal não aceita que sejam sempre os utentes do concelho os castigados com as supressões das carreiras”. O autarca refere ainda que propôs à Transtejo que “haja algumas carreiras, vindas do Barreiro, que passem no Seixal para apanhar utentes, seguindo depois para Lisboa, tendo em conta que a distância entre o Barreiro e o Seixal é curta. Parece-nos que esta possibilidade pode minorar o problema das supressões”.
Paulo Silva referiu ainda que “até ao momento foram entregues à Transtejo cinco navios eléctricos e todos têm apresentado problemas com o sistema de carregamento, sendo estes problemas a maior causa das constantes supressões de carreiras. Da parte da Transtejo foi-me dito que esta situação deve estar resolvida até ao final do ano, com as reparações nos sistemas de carregamento e com a estação de carregamento do Cais do Sodré a funcionar”.
Paulo Silva referiu à Lusa que “a administração da Transtejo lhe transmitiu que já avisou o estaleiro construtor que não recebia mais navios enquanto os problemas existentes nos cinco navios não estiverem resolvidos.”, e acrescentou “fiquei com a sensação que todo o projecto dos barcos eléctricos não foi devidamente ponderada pela tutela e que se embarcou numa aventura de aquisição de barcos eléctricos sem se verificar se os mesmos já estavam devidamente testados e a sua eficácia comprovada”, referiu o autarca, lamentando que a “aventura” esteja a prejudicar os utentes do Seixal.
Por outro lado, referiu, o problema é agravado por “os barcos não terem sido comprados com as baterias e sistemas de carregamento incluídos, o que gera agora problemas na compatibilização entre navios, baterias e sistemas de carregamento”. O autarca assegurou que se as supressões continuarem irá pedir uma reunião ao ministro da tutela.
A agência Lusa questionou a Transtejo Soflusa sobre as supressões verificadas entre o Seixal e Lisboa, sendo que desde o início do mês já se registaram quatro.
Em resposta à Lusa, a Transtejo referiu que a fase experimental da operação regular dos novos navios 100% eléctricos começou em 16 de Setembro, com a realização de algumas carreiras de acordo com o horário comercial em vigor.
Contudo, dadas as especificidades técnicas da operação eléctrica, designadamente, navegação e carregamento dos navios, têm-se registado atrasos em carreiras dos períodos de ponta de alguns dias úteis.
“Com efeito, o facto de ser um projecto pioneiro e inovador, implica a afinação de alguns aspectos, identificados após a entrada em operação dos navios eléctricos, que serão rapidamente ultrapassados”, assegurou a Transtejo Soflusa.
Ainda segundo a empresa, os navios da actual frota que continuam a ser utilizados, como alternativa e em caso de necessidade, têm tido algumas avarias inesperadas que, apesar de prontamente reparadas, ocasionaram também perturbações de serviço.
“O transporte fluvial no rio Tejo assume uma importância estratégica na mobilidade das populações da Área Metropolitana de Lisboa (AML), a qual tem vindo, de há vários anos a esta parte, a ser posta em causa com a redução de trabalhadores e problemas de manutenção nas suas frotas, conduzindo a cortes na oferta de transportes e a uma recorrente supressão de carreiras programadas, gerando perda de fiabilidade neste modo de transporte.”, conclui o comunicado da autarquia do Seixal.
Polémicas e derrapagens
A polémica pública em torno do acordão do Tribunal de Contas, que foi demolidor sobre o processo de compra dos novos navios eléctricos e das suas baterias, culminou na demissão do anterior Conselho de Administração da transportadora fluvial. O primeiro navio eléctrico recepcionado, único com bateria incluída, chegou danificado a Lisboa. Com o novo contrato para baterias e pontos de carga a renovação da frota da Transtejo ascende a 96,7 milhões de euros, uma derrapagem de 39,2 milhões de euros, em relação aos 57,5 milhões previstos em investimento em 2019. A este valor acresce ainda o do aluguer dos geradores a gasóleo.
No Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) está previsto para a nova frota da Transtejo um orçamento de 20 milhões de euros, que a concretizar-se eleva a derrapagem para 59,2 milhões de euros.
Cacilhas, Trafaria e Porto Brandão: supressão de carreiras e serviços
Na linha Cacilhas – Cais do Sodré, a Transtejo realizou um ajuste de horários em Maio de 2023 que se mantém até hoje, e que na práctica suprimiu em cerca de 30% a oferta de transportes públicos fluviais, o que reduziu a mobilidade dos almadenses desde então, funcionando também como um incentivo à procura de outras formas de mobilidade para Lisboa, entre elas a utilização de transporte individual.
O terminal fluvial da Trafaria, encontra-se encerrado desde 24 de Agosto do corrente ano, devido a obras no seu pontão. Inicialmente, como fim previsto das obras foi apontada a data de 22 de Outubro, o encerramento da estação foi entretanto prolongado até dia 17 de Novembro. A Transtejo fornece desde Agosto um serviço de transfer rodoviário para que os trafarienses possam aceder ao terminal fluvial de Porto Brandão.
A 7 de Outubro o serviço de transporte de veículos entre Porto Brandão e Belém foi temporariamente suspenso, não havendo data por parte da Transtejo para a sua retoma.
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