Três utentes desmaiam e levam a interrupção nos comboios da Fertagus

Presidente da Câmara do Seixal considerou "chocante" o modo como os passageiros circulam nestes comboios

Comboios apinhados, atrasos e uma multidão nas plataformas sem conseguir entrar nas carruagens tem sido o cenário de todas as manhãs nas estação ferroviárias da Fertagus, a partir da estação de Coina, situação que os utentes afirmam ser agora uma constante diária. Nesta Segunda-Feira, 27 de Janeiro, o desmaio de três utentes em três comboios diferentes, obrigou também à interrupção da circulação ferroviária.

Os comboios estiveram parados entre as 7h50 e as 8h45, no Pragal, Alvito e Campolide, por indisposição de três passageiros no mesmo comboio, todos no sentido Margem Sul-Lisboa. Foi preciso esperar pela assistência do INEM para a circulação ferroviária ser retomada, aumentando ainda mais o cenário caótico que se tem vivido nas horas de ponta matinais, nas estações da Fertagus, a partir da de Coina até ao Pragal. Durante quase uma hora, a circulação esteve circunscrita a via única entre o Alvito e Sete Rios.

Elisabete Silva é directa “Hoje foi para esquecer, o comboio das 7h14 não passou, os seguintes vieram atrasados, depois três pessoas sentiram se mal e ficamos parados em Campolide. Até quando vamos ter esta falta de segurança, condições humanas e de higiene na Fertagus?”

Olga Fernandes concorda e acrescenta, “a situação é absurda, cada vez que alguém se sente mal, o comboio pára e centenas de pessoas têm de sair e aguardar por outro comboio, que não existe. Enquanto fizermos a viagem amontoados é natural que várias pessoas se sintam mal.” Ambas relatam que estavam cerca de 27º dentro das carruagens apinhadas.

Tânia Godinho descreve que “em Corroios esteve uma hora e tal sem passar nenhum comboio..acabei por ir de metro de superfície, barco e duas linhas de metro em Lisboa até ao trabalho. Saí de casa às 7h30 e cheguei ao trabalho às 11h. Ao que parece alguém se sentiu mal e o comboio ficou à espera que chegassem os socorros…enquanto isso não dava para haver circulação.”

Cátia Gamito descreve que apanhou “o comboio no Pragal às 8h09, aliás tentei porque entrei nele e ele não arrancava. Entretanto dizem que alguém se sentiu mal, ficámos parados á espera do INEM. Depois tiram a pessoa e paramos três vezes por sinalização até Sete Rios. Resumindo deixei a miúda na escola às 7h40, apanhei o das 8h09, cheguei a ser rios as 9h12, cheguei ao hospital às 9h30, atrasada, revoltada e mal disposta por ter estado fechada 1h dentro de um comboio atulhado de gente, com péssima ventilação.”

Mafalda Barreiro, que usa este transporte todos os dias, disse à Lusa que a situação está a tornar-se incomportável. “Trabalho no Rossio e isto está impossível. Hoje já estou aqui há uma hora e não consigo entrar nos comboios que passam porque já vão cheios”, disse.

A demora de hoje, acrescentou, levou mesmo a sentir necessidade de pedir uma justificação para entregar no emprego. “Isto é demais. Está a ficar incomportável e todos os dias há pessoas a sentirem-se mal nestas viagens porque nem se respira”, frisou.

Luísa Marques, que aguardava também na plataforma, confirmou todas as observações feitas por Mafalda Barreiro e acrescentou: “Aqui está assim, no Pragal ainda está pior”.

Questionadas sobre desde quando o serviço de transporte ferroviário que liga Setúbal a Lisboa tem registado estes constrangimentos, ambas afirmaram que já há algum tempo que “está complicado”, mas desde Dezembro, com as alterações de horário efectuadas pela empresa, a situação agudizou-se.

Na plataforma da estação do Pragal, muitas pessoas aguardavam que um dos comboios pudesse chegar mais vazio, outras avançavam e tentam entrar a todo o custo, todas discutem. Para fechar as portas, não são raras as vezes que é necessária intervenção de funcionários da estação e, depois das portas fechadas, os passageiros vão colados às mesmas. Quem é mais baixo nem toca com os pés no chão.

Autarca do Seixal diz que é “chocante” a forma como utentes da Fertagus são transportados

O presidente da Câmara Municipal do Seixal, (CMS) Paulo Silva, considerou “chocante” o modo como os passageiros circulam nos comboios da Fertagus “sem quaisquer condições e como sardinhas em lata” e exigiu uma resolução urgente do problema.

Paulo Silva (PCP), que realizou na manhã de hoje, 27 de Janeiro, uma viagem entre Foros de Amora e Corroios, estações ferroviárias situadas no Seixal, disse aos jornalistas que decidiu verificar no local as dificuldades vividas pelos seus munícipes.

O autarca do Seixal, concelho com 170 mil habitantes, explicou ainda que tem recebido várias dezenas de queixas, tendo por isso solicitado já uma reunião com a administração da Fertagus. “Decidi pedir uma reunião à administração da Fertagus e para estar melhor avalizado fiz a viagem para saber o modo como os meus munícipes estão a ser servidos e o que vi foi chocante, parece que vão como sardinhas enlatadas sem quaisquer condições. É urgente que este assunto seja resolvido”, disse. Paulo Silva acrescentou que este serviço era reconhecido por ter qualidade, o que não corresponde à realidade actual.

Além da reunião com a administração da Fertagus, o autarca adiantou que o “funcionamento deficitário da empresa” será também abordado numa reunião que tem agendada com o ministro das Infraestruturas ainda durante esta semana.

Paulo Silva disse que tem de haver um investimento no material circulante da Fertagus para poder haver um aumento da oferta, mas defendeu também a importância de um investimento noutros meios de transporte do concelho, nomeadamente o Metro Sul do Tejo (MTS) e o fluvial.

“É necessário, sem dúvida, que a segunda fase do Metro Sul do Tejo seja construída, mas há um pequeno troço de 1,8 km, desde a garagem do Metro Sul do Tejo até à estação dos Foros de Amora que passaria a servir mais 50 mil utentes da freguesia de Amora. São pequenas obras e seriam 50 mil pessoas que descongestionariam quer a Fertagus, quer também a Carris Metropolitana”, disse.

Os constrangimentos vividos pelos utentes do serviço ferroviário que liga as duas margens, entre Setúbal e Lisboa, foram também já alvo de criticas por parte da presidente da Câmara Municipal de Almada (CMA), Inês de Medeiros (PS).

No dia 14 de Janeiro a autarca deslocou-se à estação do Pragal e, em declarações públicas, alertou para a necessidade urgente de um reforço do número de carruagens nos comboios da Ponte 25 de Abril, de forma a resolver os constrangimentos registados.

A autarquia de Almada tem também recebido várias queixas de munícipes indicando que, desde que foram alterados os horários deste transporte, os comboios que partem de Setúbal enchem rapidamente deixando passageiros de fora, particularmente na estação do Pragal. Inês de Medeiros acrescentou que a grande prejudicada do novo modelo é a população de Almada e do Seixal, porque quando os comboios chegam já vêm cheios.

Até Dezembro, a circulação de comboios da Fertagus entre as estações de Setúbal e de Lisboa (Roma-Areeiro) nos dias úteis era de 30 em 30 minutos, mas, a partir de 15 de Dezembro do ano passado, passou a ser de 20 em 20 minutos.

O aumento da oferta do horário de transporte ferroviário entre Lisboa e Setúbal através da Ponte 25 de Abril foi anunciado em Novembro pelo Ministério das Infraestruturas e Habitação, no âmbito do alargamento do contrato de concessão da Fertagus por seis anos e meio, até 31 Março de 2031.

Desde Dezembro, vários utentes do serviço ferroviário prestado pela Fertagus têm vindo a denunciar, nas redes sociais e em alertas dirigidos às câmaras municipais de Almada e do Seixal que os comboios que partem de Setúbal enchem rapidamente, deixando passageiros de fora.

As primeiras queixas tornadas públicas surgiram relativamente à estação do Pragal, no concelho de Almada, mas o cenário de multidões nas plataformas e de dificuldades em conseguir entrar nas composições porque já se encontrarem cheias tem sido também descrito por utentes que usam o serviço a partir das estações de Coina, Foros de Amora e Corroios.

Na Quinta-Feira, a Autoridade da Mobilidade e dos Transportes (AMT) pediu informações à Fertagus sobre a insatisfação dos passageiros com os novos horários dos comboios.

“A AMT solicitou informações sobre quais as medidas concretas que foram adotadas pela Fertagus para mitigar esta situação, designadamente ao nível da comunicação e informação prestada aos passageiros, bem como medidas que estejam a ser equacionadas para assegurar a adequação da oferta à procura em condições de segurança e qualidade”, lê-se num comunicado divulgado pela AMT.

O pedido de informação urgente surgiu na sequência de protestos dos utentes, indicando a AMT que analisará a informação a ser prestada pela Fertagus e que, caso se justifique, agirá em conformidade no sentido de assegurar o cumprimento contratual e garantir os direitos dos passageiros.

Os autarcas de Almada e Seixal pediram também esclarecimentos à empresa, enquanto os deputados do PS e do PCP denunciaram a “degradação do serviço da Fertagus” devido à insuficiência de material circulante.

A ligação ferroviária entre Lisboa e a Margem Sul foi inaugurada em 29 de Julho de 1999, com o objetivo de retirar carros da Ponte 25 de Abril.

A travessia liga as estações de Roma-Areeiro, em Lisboa, a Setúbal, e conta com 10 estações na Margem Sul e quatro na capital.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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