Costa da Caparica | Terra em transe
Um filme de Glauber Rocha, em exibição a 12 de Dezembro às 21h, no Auditório Costa da Caparica
O Cineclube Impala, organizado pela Associação Gandaia, exibe no Auditório Costa da Caparica, o filme “Terra em transe”, de Glauber Rocha, o segundo do ciclo de cinema dedicado ao cineasta brasileiro, que decorre durante o mês de Dezembro.
Situado no país fictício Eldorado, cenário para uma intrincada teia de personagens, incluindo militantes, militares, intelectuais, políticos e empresários, todos envolvidos numa luta feroz pelo poder, Paulo Martins (Jardel Filho) é um poeta, anarquista e jornalista dividido entre ideais revolucionários e as forças corruptas que governam o seu país, entre a loucura da elite e a submissão cega das massas. À medida que se envolve com líderes políticos opostos, o conservador Porfírio Diaz (Paulo Autran) e o populista Felipe Vieira, vive o dilema entre apoiar mudanças genuínas, ou ceder às ilusões do poder.
Paulo Martins está ligado ao político conservador em ascensão, o tecnocrata Porfírio Diaz e à sua amante Silvia, com quem também mantém um caso, formando um triângulo amoroso. Quando Diaz se elege senador, Paulo afasta-se e vai para a província de Alecrim, onde conhece a activista Sara. Juntos resolvem apoiar o vereador populista Felipe Vieira para governador, na tentativa de lançarem um novo líder político, supostamente progressista, que mude a situação de miséria e injustiça vivida no país.
Ao ganhar as eleições, Vieira mostra-se fraco e controlado pelas forças económicas locais que o financiaram, e não faz nada para mudar a situação social, o que leva Paulo, desiludido, a abandonar Sara, e a voltar à capital e a Sílvia. Aproxima-se de Júlio Fuentes, o maior empresário do país, e conta-lhe que o presidente Fernandez tem o apoio económico de uma poderosa multinacional, que quer assumir o controle do capital nacional. Quando Diaz disputa a Presidência com o apoio de Fernandez, Fuentes cede um canal de televisão a Paulo, que o utiliza para atacar o candidato. Vieira e Paulo unem-se novamente na campanha para a presidência, até que Fuentes os trai, e faz um acordo com Diaz. Paulo quer partir então para a luta armada, porém Vieira desiste.
Com uma narrativa simbólica e intensa, o filme aborda os temas do autoritarismo, da hipocrisia das elites, do papel dos intelectuais na transformação social, consolidando-se como uma crítica feroz e visionária da realidade política vivida no Brasil e na América Latina. Pode ser lido como uma grande parábola da história do Brasil no período 1960-66, na medida em que os personagens são uma metáfora de diferentes vertentes políticas existentes no Brasil dessa época. Faz uma crítica exaustiva a todos os que participaram nesse processo, incluindo aa várias correntes da esquerda brasileira. Esse foi um dos motivos pelos quais o filme foi tão mal recebido pela crítica, e pelos intelectuais brasileiros.
A longa metragem teve também problemas com a censura brasileira, e em Abril de 1967 foi proibido no país, por ser considerado subversivo e irreverente para com a Igreja. Foi permitida a sua exibição na condição de que fosse dado um nome ao padre interpretado por Jofre Soares. Esteve proibido pela censura fascista portuguesa até 1974.
“Terra em Transe” recebeu o Prémio Luís Buñuel e Fipresci no 20º Festival de Cannes, em 1967, e esteve indicado para a Palma de Ouro. No mesmo ano, Glauber Rocha recebeu o prêmio Leopardo de Ouro e o Grand Prix do júri paralelo, no Festival de Locarno.
Glauber Pedro de Andrade Rocha (1939-1981) foi um dos cineastsa brasileiros responsáveis pelo movimento de vanguarda intitulado “Cinema Novo”. Em 1971, com a radicalização do regime, o cineasta foi considerado um dos líderes da esquerda brasileira e exilou-se em Portugal, onde viveu até 1981.
Ficha Técnica:
Título original: Terra em transe
Realização: Glauber Rocha
Argumento: Glauber Rocha
Produção: Glauber Rocha, Zelito Viana
Elenco: Jardel Filho, Paulo Autran, José Lewgoy, Glauce Rocha, Paulo Gracindo, Hugo Carvana, Danuza Leão, Jofre Soares, Modesto De Souza, Mário Lago, Flávio Migliaccio, Thelma Reston, José Marinho, Francisco Milani, Paulo César Peréio, Emmanuel Cavalcanti, Zózimo Bulbul, Antônio Câmera, Darlene Glória, Elizabeth Gasper, Sônia Clara
Música: Sérgio Ricardo
Fotografia: Luiz Carlos Barreto
Edição: Eduardo Escorel
Género: Drama
Origem: Brasil
Ano: 1967
Duração: 109 min
Classificação: M/16
1€ sócios | 2€ geral
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