PCP questiona Governo sobre navios eléctricos da Transtejo carregados com geradores a gasóleo

Deputados da AR dizem-se "perplexos" com o que viram em Cacilhas

O PCP questionou na passada Segunda-Feira, 15 de Julho, a ministra do Ambiente sobre navios eléctricos da Transtejo que estão alegadamente a ser “carregados com geradores a gasóleo alugados”, na Doca 13 da ex-Lisnave, em Cacilhas, considerando que este é o “retrato de uma certa política ambiental” que “se esgota em decisões cujo principal impacto é na Comunicação Social e na propaganda”.

Numa pergunta dirigida a Maria da Graça Carvalho através da Assembleia da República, os deputados do PCP Paula Santos e Alfredo Maia anexam duas fotografias em que, segundo dizem, se vê um navio eléctrico da Transtejo a ser carregado com dois geradores a gasóleo numa doca em Cacilhas, no mês de Julho.

Admitindo “perplexidade” com a situação, os deputados do PCP recordam que em 2020 foi lançado um concurso de aquisição de dez novos navios eléctricos para a Transtejo, sendo que só um chegou equipado com baterias, “o que obrigou a um novo concurso para a aquisição de nove baterias de armazenamento de energia”.

O partido considera que, “se a opção tomada pelo Governo – e imposta à Transtejo – pela compra de navios com motores eléctricos e baterias sempre pareceu, no mínimo, precipitada e arriscada, tal como o PCP e os trabalhadores alertaram atempadamente, com a agravante de ter desviado o trabalho de um estaleiro nacional para Espanha, a sua implementação concreta está a revelar-se um desastre”.

As fotografias que anexa na pergunta suscitam novas questões. Alegando que os dois geradores que estão a carregar o navio eléctrico na doca de Cacilhas são alugados, os deputados do PCP perguntam à ministra do Ambiente e da Energia “que contrato [de aluguer] foi realizado, por quanto tempo e qual o gasto mensal”.

Os deputados do PCP querem também saber quando é que se pode esperar que os navios eléctricos da Transtejo comecem a entrar em operação, tendo em conta que já foram recepcionados cinco navios, e que estava inicialmente previsto que começassem a ser utilizados em Abril passado.

O PCP questiona ainda “que explicações são dadas para a forma como os pontos de carga foram contratados e estão a ser instalados”, uma vez que é “preciso recorrer a geradores para carregar as baterias dos navios”.

“Todos os problemas que a empresa actualmente enfrenta, provocados pela opção tomada pelo Governo, poderiam ter sido evitados se esse Governo tivesse escutado os alertas dos trabalhadores da empresa. Está o Governo disponível a passar a adoptar uma outra atitude com a Transtejo e os seus trabalhadores?”, pergunta ainda o PCP.

Segundo uma reportagem do Expresso de dia 11 de Julho corrente, sobre navios eléctricos da Noruega a Portugal, “a Transtejo já tem prontos para o serviço três navios, um dos quais ficará de reserva.” Segundo o investigador Tiago Santos, professor associado do Centro de Engenharia e Tecnologia Naval e Oceânica (CENTEC) do Instituto Superior Técnico (IST), citado na mesma reportagem, “ao instalarem-se baterias de pequena capacidade, estas têm de ser carregadas em terra com frequência e, no caso dos ferries, no curto espaço de tempo de cada escala. A rede de terra não está frequentemente preparada para fornecer a energia necessária em curtos espaços de tempo, obrigando a importantes investimentos em redes de alta tensão, além do carregador propriamente dito”. O mesmo investigador considera ser preciso ponderar bem as externalidades positivas, porque “a produção de baterias tem custos ambientais não negligenciáveis” e representam “elevados custos totais do ciclo de vida de navios.”

Este foi um processo marcado pelas dúvidas sobre a fonte energética. Em 2018, a Transtejo apresentou uma proposta para comprar uma frota híbrida a diesel e eléctrica, que foi recusada pelo Governo. No ano seguinte, o Executivo recusou a proposta para uma frota exclusivamente eléctrica e lançou o concurso para navios a GNL, que acabou deserto. No início de 2020, optou-se finalmente por embarcações a baterias.

A polémica pública em torno do acordão do Tribunal de Contas, que foi demolidor sobre o processo de compra dos novos navios eléctricos e das suas baterias, culminou na demissão do anterior Conselho de Administração da transportadora fluvial. O primeiro navio eléctrico recepcionado, único com bateria incluída, chegou danificado ao seu destino. Com o novo contrato para baterias, pontos de carga a renovação da frota da Transtejo ascende a 96,7 milhões de euros, uma derrapagem de 39,2 milhões de euros, em relação aos 57,5 milhões previstos em investimento em 2019.

Sofia Quintas

Directora e jornalista do Almada Online

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